ANOVAGUERRAFRIA 53
Haveria formação em GPS, prática de tiro ao alvo
ao estilo militar, simulacros de busca-e-salva-
mento e muita caça e pesca no gelo.
De pé na orla do círculo, eu sacudia o gelo das
pestanas. Observei os rostos e li as cicatrizes das
queimaduras do gelo, pequenas medalhas de
honra que nos falam de vidas passadas ao ar livre
numa das paisagens mais implacáveis do planeta.
Pouco depois, os membros do grupo desfize-
ram a formação e começaram a fumar os últimos
cigarros antes da longa viagem rumo à escuridão.
Marvin veio ter comigo e perguntou-me se eu es-
tava bem quente. Alto, de ombros largos e riso fá-
cil, pertencera à patrulha de vigilantes. Com mo-
dos amigáveis, avisou-me que não adormecesse
durante a viagem que se avizinhava.
Acontece, disse-me. Por vezes, as pessoas caem
das motos e desaparecem. Recordou-me que, na-
quele momento, não havia qualquer rede de te-
lemóvel na ilha nem em qualquer outra parte do
território de Nunavut. “Se te acontecer algo e nos
separarmos, senta-te e espera que alguém volte
atrás para te ir buscar”, disse. “E tenta não encon-
trares ursos-polares!”
Estes vigilantes são conhecidos como os “olhos
e ouvidos do Canadá no Norte” e as suas unida-
des patrulham as regiões mais distantes do país
desde a década de 1940. A maior parte dos vigi-
lantes são voluntários indígenas e, ao longo dos
anos, desempenharam funções como batedores,
participaram em jogos de guerra e ajudaram sol-
dados a aprender a construir igloos, a viajar pela
tundra e, de um modo geral, a manterem-se vi-
vos no meio do frio. O seu papel, tal como o do
próprio Norte longínquo, não é bem conhecido
e os vigilantes sempre conseguiram manter-se
operacionais apesar dos orçamentos apertados e
do equipamento obsoleto,incluindoespingardas
de ferrolho fornecidas peloEstado,fabricadasna
década de 1940. (Continua na pg. 60)