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(Antfer) #1

TIndústria e abertura comercial


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia &
Negócios
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Affonso Celso Pastore


Ultimamente, o que mais se ouve é que a pandemia e a
guerra Rússia Ucrânia teriam decretado o fim da
globalização. Teríamos chegado ao fim das trocas just
in time, pelo qual uma indústria localizada em um país
compra, em outro, partes semiprocessadas que, junto a
componentes produzidos em um terceiro país, geram
um produto acabado, que é em parte vendido em seu
mercado interno e, em parte, exportado? Economistas
experientes já vinham alertando que, talvez, a
globalização nessa intensidade tivesse ido longe
demais. Alguns recomendavam seu
redimensionamento, que em parte já vinha ocorrendo,
mas não me recordo de nenhum que afirmasse que se
extinguiria.


Embora os países que escaparam da armadilha da
renda média tenham iniciado a industrialização através
do protecionismo, somente sustentaram o crescimento
da produtividade e de sua renda per capita quando
abriram suas economias. Abertura comercial não se
confunde com promoção de exportações. Significa o
aumento do volume de comércio - exportações mais


importações. Superávits comerciais elevados eram o
sonho dos mercantilistas, sendo louvados nos países
que adotavam o padrão ouro, quando a riqueza das
nações era medida pelo estoque de ouro, e não pela
renda per capita da população.

E a abertura comercial que, junto com a integração nas
cadeias globais, estimula os investimentos em novas
técnicas que aumentam a produtividade. Ao interromper
as cadeias globais, a pandemia e a guerra Rússia-
Ucrânia geraram paradas na produção, choques
inflacionários e prejuízos. Por isso, da mesma forma
como os investidores diversificam os riscos em sua
carteira de ativos, é necessário diversificar as compras
de partes componentes, encontrando um nível ótimo de
integração.

É essa integração que permite explorar a fundo os
benefícios da 'destruição criadora', na qual os
empresários investem ainda mais em inovações para
gerarem rents temporários, defendendo-se das
inovações de seus concorrentes. Mas tudo isso desaba
se reagirem como um senhor feudal que, para proteger
sua riqueza, aprofunda o fosso em torno do castelo,
enchendo-o de ferozes crocodilos. Esta metáfora,
relatada por Jan Eeckhout ('The Profit Paradox', 2022),
resume a explicação dada por Warren Buffett para o
sucesso de seus investimentos industriais.

Temo que o ataque à globalização se transforme em
nova defesa do protecionismo, e os brasileiros superam
todos na técnica de aprofundar o fosso em torno de seu
castelo.

Temo que o ataque à globalização se transforme em
nova defesa do protecionismo

COLUNISTAS

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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