Clipping Jornais - Banco Central (2022-04-24)

(Antfer) #1

Bernardo Carvalho - Identidade nacional


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Bernardo Carvalho Romancista, autor de ?Nove
Noites? e ?O Último Gozo do Mundo?.


Sou um cara meio ingênuo. Jurava que depois de dois
anos de pandemia, mais de 600 mil mortos graças à
irresponsabilidade criminosa do governo, orçamento
secreto, rachadinhas, desmonte institucional,
imposturas e mentiras descaradas, propina de pastores
em barras de ouro, licitações ilícitas, milícias, a
Amazônia entregue ao crime etc. , quando afinal
voltasse à academia de ginástica, seria recebido de
braços aber tos, com pedidos de desculpas e gestos
solidários pelos colegas com quem me indispus antes e
depois da eleição de Bolsonaro eque na época juravam
querer salvar o país.


A princípio evitei confrontá-los quando os revi, cheguei a
desviar o rosto em alguns casos, para não forçá-los à
humilhação de uma desculpa involuntária.


Por culpa dele se de gente como eles, que nunca
assume a consequência de seus atos embora num
primeiro momento até ache que pode desfrutar da sua
inconsequência, acabamos todos no mesmo inferno


presidido por uma gangue de trombadinhas, assistindo
paralisados à pilhagem econômica, social, institucional,
cultural e ambiental do país.

Logo descobri que meus velhos contendores não só não
tinham do que se desculpar mas que alguns não
hesitavam em se aproximar de mim em busca de uma
cumplicidade traficante, voz baixa, olhos nos olhos e
sempre sem máscara, como se não vissem a minha e
nesses dois anos tivessem esquecido quem eu sou,
para expressar sua indignação com gente dormindo na
calçada do prédio onde moram ou pedindo comida na
porta de restaurantes. E, claro, para ironizar a liderança
de Lula nas pesquisas, como suposto 'salvador da
pátria'.

O destino da França e, port abela, do mundo se decide
neste domingo (24) entre o presidente Emmanuel
Macron e a candidata de extrema direita Marine Le Pen.
Esperamos que Macron, apesar da impopularidade e da
rejeição à esquerda entre os eleitores de Mélenchon
(22% dos votos no primeiro turno), seja reeleito graças a
uma ampla frente republicana contra o fascismo.

Só o fato de a candidata de extrema direita estar pela
segunda vez consecutiva no segundo turno do pleito
presidencial francês já diz muito sobre o estado de
coisas no mundo em geral e na França em particular.
Desta vez, entretanto, Le Pen teve de lançar mão de
uma aparência de civilidade e civismo sem-vergonha,
sema qual o outro candidato de extrema direita, Éric
Zemmour, acabou reduzido a 7% dos votos no primeiro
turno.

As consequências acabam sendo as mesmas, mas é
notável que entre nós não precisemos de nenhuma
fachada para manter Jair Bolsonaro (o mais próximo de
Éric Zemmour em território nacional) competitivo nas
projeções de intenção de voto.

Quanto mais violento e incivilizado e abertamente
suicida, mais nos sentimos representados (penso nos
meus colegas de academia). E isso depois de já
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