Aero Magazine - Edição 304 (2019-09)

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A grande maioria
dos desastres
aconteceu por
negligência
à filosofia de
segurança de voo


As regras e manuais que cons-
tituem o arcabouço regulatório
da aviação civil tem como base
a experiência acumulada em
mais de cem anos de operações.
Negligenciar tais procedimentos
confiando unicamente em seu
julgamento, demonstram as esta-
tísticas, é um aspecto decisivo nos
acidentes aeronáuticos. Voar não
é natural e o homem não foi feito
para isso. Portanto, ao se colocar
nessa situação, deve respeitar seu
treinamento e os regulamentos
estabelecidos pela experiência de
outros, sem confiar cegamente
em seus instintos.

AS ESTATÍSTICAS
Embora fale-se muito sobre
segurança de voo, analisando a
base de dados do Cenipa sobre
fatores contribuintes de 4.630
acidentes aeronáuticos ocorridos
nos últimos 10 anos, nota-se que
a grande maioria dos desastres

aconteceu por negligência à filo-
sofia de segurança de voo.
Existe uma falácia de que a
filosofia de segurança de voo não
busca culpados e não permite a
análise criteriosa dos relatórios
de acidentes. Isso, aliado ao
corporativismo de aeronautas e
aeroviários, faz com que muito do
que poderia ser aprendido com
erros passados seja negligenciado,
causando a repetição de acidentes
que poderiam ser evitados.
Ao confiar em seus instintos
e negligenciar as regras de voo, o
homem acaba por mostrar que, na
prática, o discurso de segurança é
diferente. Lendo os relatórios do
início da matéria, isso fica evidente.
Perceba o cuidado na escrita para
dizer que procedimentos básicos
de segurança de voo, tais como uso
do checklist, seguir o manual da
aeronave ou as regras de voo visual,
foram descumpridos. Tal cuidado
é explicado pela característica do

relatório e pelas responsabilidades
de quem os prepara, mas não deve-
ria ser uma barreira para a análise
clara por parte da comunidade
sobre o status prático da segurança
de voo em nossa aviação.
O objetivo aqui não é
discutir as várias vezes em que a
presença do homem evita o aci-
dente, isso é assunto para outro
artigo. Aqui estamos discutindo
as vezes em que a presença hu-
mana contribuiu para o aciden-
te, na sua maioria por decisões
individuais equivocadas.
Os números são reveladores.
Em relação ao número total de
acidentes, os aspectos psicológicos
e o desempenho do ser humano
representam mais de 90% dos
acidentes. A falta de experiência,
o excesso de experiência, a falta de
conhecimento técnico e pressões
organizacionais contribuem para
muitos acidentes e a comunidade
aeronáutica tem de estar atenta.
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