Aero Magazine - Edição 304 (2019-09)

(Antfer) #1
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CAMPO DE MARTE:


DESATIVAR OU PRIVATIZAR?


O destino do principal aeroporto de aviação geral do país depende
de uma negociação que vai além de questões aeronáuticas

POR | GIULIANO AGMONT


DEBATE


atual governador de São Pau-
lo, João Doria, sempre quis
ser presidente”. O empresário
Olavo Fontoura, neto do
patrono de aviação brasilei-
ra, que dá nome à avenida em frente ao
aeroporto Campo de Marte, diz isso com
propriedade: “A gente se conhece desde
muito jovem e ele já falava que queria diri-
gir o país”. É curioso notar como o destino
destes dois amigos estão entrelaçados em
torno do principal aeroporto da aviação
geral nacional, ainda que de lados opostos.
“Para onde irão todas estas aeronaves se
o aeroporto fechar?”, pergunta-se Olavo,
apontando para jatos, turbo-hélices e
aviões a pistão baseados no hangar Tucson,
fundado por sua família.
João Doria parece estar decidido a
desativar a pista do Campo de Marte,
mantendo ali apenas operações de
helicópteros e transformando a área
em um parque público, “com prática de
esportes urbanos, aproveitando as pistas
construídas e o próprio museu aeronáu-
tico”, conforme esclarece sua Secretaria
de Governo. Os motivos ainda são
pouco claros e o governador prefere não
falar sobre o assunto de maneira mais
aprofundada – a reportagem de AERO
fez mais de um pedido ao governo.

O que se sabe é que a operação de
aeronaves leves, incluindo aviões de ins-
trução e até experimentais (como se viu no
acidente que vitimou o empresário Roger
Agnelli e mais seis pessoas, em 2016),
sobre uma área densamente povoada sofre
críticas dos que querem o fechamento
do aeroporto, por questões de segurança.
Nesse grupo, há os que consideram o
Campo de Marte menos um aeródromo
de interesse da população em geral e mais
um reduto de ricos que querem deixar seu
avião próximo de casa para ir passar o fim
de semana em Angra dos Reis ou outro
destino turístico do país. No fim, o gover-
nador deve colocar o plano em prática se
conseguir que a União revogue a outorga
da Infraero para operar o aeroporto e o
delegue ao Departamento Aeroviário do
Estado de São Paulo (Daesp).
Houve reação de parte da comunidade
aeronáutica, que contesta o plano. Alegam
que uma metrópole como São Paulo
não pode prescindir de um aeroporto já
instalado. “As grandes cidades do mundo,
incluindo Buenos Aires, Londres, Paris e
Nova York, são servidas por quatro, cinco,
seis... nove aeródromos e nós temos só
dois, querendo fechar um”, critica Flávio Pi-
res, diretor-geral da Abag. “Em breve, com
o potencial econômico do Brasil, os aero-

portos de Congonhas e Guarulhos estarão
saturados e faltará espaço para a aviação
de negócios no centro financeiro do país”.
Segundo projeções, até 2030 o número de
passageiros deve dobrar em São Paulo.

POTENCIAL IMOBILIÁRIO
Nos bastidores, o que se ouve é que a Zona
Norte de São Paulo tem um potencial
imobiliário extraordinário – leia-se divi-
dendos para construtoras e incorporadoras
e ganhos de arrecadação para o municí-
pio, além de desenvolvimento urbano –,
que esbarra justamente nas restrições de
construção impostas pela rampa de apro-
ximação de aviões do Campo de Marte
estabelecidas pelo Departamento de Con-
trole de Tráfego Aéreo, o Decea, seguindo
convenções internacionais.
O debate está aberto. Um empresário
do setor aeronáutico, que preferiu não se
identificar, diz que a disputa pela sucessão
presidencial pode ter esvaziado os planos
de João Doria, bem como a decisão de
manter viva a Infraero. “O assunto ganhou
outra conotação quando a equipe de Jair
Bolsonaro percebeu o potencial de finan-
ciamento para a campanha de um possível
adversário em 2022”, especula.
Para a comunidade aeronáutica, o
maior problema é não ter onde alocar e

“O

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