Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
A GENIALIDADE DE MILES DAVIS
NÃO SE LIMITOU À MÚSICA: O LENDÁRIO TROMPETISTA
ERA TAMBÉM UM GRANDE PINTOR
POR IZABEL DUVA RAPOPORT

H


á muitos artistas multifacetados
pelo mundo, sem dúvida, mas
poucos viveram uma conexão
entre música e arte visual tão seria-
mente quanto Miles Davis (1926-1991).
Inclusive, após sua morte, com o lan-
çamento póstumo do álbum perdido
que ficou engavetado por três décadas,
Rubberband, cuja capa é ilustrada com
uma obra do próprio Davis.
Sua carreira como pintor, no en-
tanto, diferentemente da trajetória em
música, demorou a ganhar um real
significado. Foi apenas nos anos 1970,
quando o artista se afastou por um
período da indústria musical para
lidar com a saúde debilitada, que ele
passou a desenhar e pintar com fre-
quência – a princípio, para si mesmo.
“É como uma terapia para mim. Man-

tém minha mente ocupada com algo
positivo quando não estou tocando
música”, dizia, preenchendo com pin-
céis as lacunas que a falta do trompe-
te deixava em sua vida.
Já na década de 1980, ao retornar
aos palcos e gravações, Davis resolveu
tornar público seu trabalho visual,
lançando-o na capa do disco Star
People. Nesta época, conheceu Jo Gel-
bard, a artista que o ajudou a aprimo-
rar as técnicas e o estilo de suas obras.
Juntos, criaram a capa de um dos
mais elogiados álbuns do músico,
Amandla – termo zulo que significa
poder, muito usado nas manifestações
da época contra o Apartheid. Para
Davis, porém, a palavra representava,
sobretudo, liberdade. Tanto na vida
quanto na arte, seja ela qual for.

DO JAZZ AO PINCEL


3 A produção criativa de Davis, na música
e na pintura, foi abundante
até sua morte, em 1991.
Depois disso, uma série de
exposições foi feita, além do
livro Miles Davis: The Collected
Artwork, que reúne obras
visuais do artista, mantendo
viva também esta grande
expressão de sua vida.

2 Para a artista Jo Gelbard, a maneira
como Miles Davis pintava
não era como ele tocava
ou desenhava. “Ele era tão
minimalista e leve em seu
som. Seus esboços eram
arejados. Mas, quando
pegava seu pincel era mortal,
como uma criança com
tintas no jardim da infância.”

1 Fazendo uso de cores vivas e formas
geométricas, as pinturas de
Davis eram surreais e ousadas,
com evidente influência
da arte tribal africana. Também
evocam obras de mestres
como Wassily Kandinsky
(1866-1944), Pablo Picasso
(1881-1973) e Jean-Michel
Basquiat (1960-1988).

ARTE


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