Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
nar dentista – o que lhe rendeu o apelido Tiraden-
tes. Quando foi preso durante a Conjuração Mi-
neira, estava portando a sua maletinha com os
utensílios usados para extrair dentes.
Seus pais, o português Domingos da Silva
Santos e a brasileira Maria Antônia da Encarna-
ção, não eram ricos, mas tinham algumas posses,
como fazendas e escravizados. Criavam animais,
mineravam ouro e produziam e vendiam alimen-
tos. O pai chegou a ocupar cargos na base da
administração pública, o que, apesar de não ren-
der muito dinheiro, era sinal de prestígio social.
Mesmo nunca tendo frequentado uma escola
formal, Tiradentes aprendeu a ler e a escrever, o
que o colocava numa posição privilegiada em
relação à maioria dos habitantes da colônia. Com
a morte precoce dos pais, a herança que recebeu
o ajudou muito a construir sua vida.
Ao longo dos anos, Joaquim também foi fa-
zendeiro (plantava e criava gado) e minerador.
“Tentou se estabelecer como homem de negó-
cios, com projetos de infraestrutura no Rio de
Janeiro muito avançados nas áreas de abasteci-
mento de água potável, transporte f luvial e ar-

mazenamento de mercadorias, mas esbarrou
nas malhas da burocracia portuguesa”, re-
vela Lucas Figueiredo.

CARREIRA MILITAR E MUDANÇA DE ROTA
Somente aos 29 anos, Tiradentes entrou para
a cavalaria de Dragões Reais de Minas, a for-
ça militar atuante na Capitania de Minas
Geras e subordinada à Coroa portuguesa.
Tornou-se alferes – o posto mais baixo do
oficialato. Segundo o biógrafo, Tiradentes
assumiu missões de grande risco ao comba-
ter os temidos bandos armados que assola-
vam o sertão mineiro no final do século 18,
como a chamada “quadrilha da Mantiqueira”.
Como militar, tinha obrigação de comba-
ter o contrabando de ouro e a sonegação de
impostos. “Ele também devia inibir qualquer
sinal de rebeldia da população em relação às
ordens e às autoridades portuguesas. Ou seja,
Joaquim era a mão pesada do Estado portu-
guês em Minas Gerais”, ressalta o autor.
Na prática, Tiradentes reprimia luso-
-brasileiros como ele, muitos dos quais

FIGURA
DE SANTO
A litografia que
Décio Villares (artista
responsável pelo
desenho da bandeira
nacional) fez de
Tiradentes, no fim do
século 19, consagrou
a imagem cristã do
líder inconfidente

BARBA, CABELO E BIGODE
A barba e o cabelo compridos lembram a
imagem de Jesus. É provável que, na época,
o cabelo fosse cortado antes da execução.
Mas não há registros que comprovem isso.

OS PAIS DO MITO
No canto esquerdo, a informação de
quem mandou imprimir os folhetos no
primeiro feriado popular da República:
Edição do Apostolado Positivista
do Brasil, 1890. Já as inscrições
no laço (1792 – Libertas quae sera
tamen e Ordem e Progresso – 1889)
representam o pretenso parentesco
histórico da Inconfidência Mineira com
a proclamação da República.


TRAÇOS GREGOS
Os traços do militar, que
aparenta uns 40 anos,
são nobres, retos, gregos –
também como os de
Jesus, que, apesar da região
em que nasceu, é retratado
com os olhos azuis.

COM A CORDA
NO PESCOÇO
A corda está entrelaçada
no pescoço de Tiradentes,
mas está frouxa, não
ameaça enforcar. É fina
e delicada, bem diferente
da que realmente foi
usada para a execução.

COROA DE CAFÉ
A palma simboliza o martírio.
E, assim como Jesus,
Tiradentes tem coroa: a sua
não é de espinhos, mas de
folhas e grãos de café, mais
adequada aos trópicos.

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