Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
publicano e democrático que havia guiado a
emancipação dos Estados Unidos anos antes,
em 1776. Inspirado na experiência norte-ame-
ricana, Tiradentes, sem se preocupar com
qualquer traço de discrição, passou a divulgar
aos quatro cantos esses princípios ideológicos.
“Tiradentes não era um líder. Era um divul-
gador do movimento. Mais tarde, ele foi des-
crito durante o processo de julgamento dos
membros da Inconfidência como ‘leva e traz’
por falar muito. Joaquim tentava aliciar pes-
soas a participarem da Conjuração. Chegou a
fazer propaganda do movimento nos prostí-
bulos que frequentava”, revela o historiador e
professor da Universidade Federal de Ouro
Preto, Álvaro Antunes – prestes a lançar a obra
O Pasquim do Calambau – Infâmia, Sátira e o
Reverso da Inconfidência Mineira, em coauto-
ria com o pesquisador Luciano Figueiredo, da
Universidade Federal Fluminense.
Para o jornalista Lucas Figueiredo, essa
atuação pode ser considerada até certo ponto
como ousada. “Enquanto todos os conjurados
operavam nas sombras, com grande caute-

Enquanto o carrasco colocava a corda ao
redor do pescoço de Tiradentes para executar
a pena de morte, os demais membros da
Conjuração Mineira permaneceriam vivos.
Houve, sim, um total de 11 condenados
à morte pelo crime de traição ao rei. Mas
foram perdoados e exilados na África.
Os réus eclesiásticos, por exemplo, foram
condenados à prisão perpétua em Portugal.
O único condenado, no entanto, que teve
a pena de morte mantida foi Tiradentes.
“Muitos condenados tiveram comutação das
penas. Muitos outros negaram o envolvimento

no movimento e minimizaram seus papéis
dentro da Conjuração, como foi o caso
do escritor Tomás Antônio Gonzaga,
que era um grande advogado na época.
Outros, ainda, tiveram um respaldo social
e econômico que pesou na decisão da
Coroa”, revela Álvaro Antunes, professor
do curso de História da Universidade
Federal de Ouro Preto. Vale mencionar
que durante a prisão, ainda em território
mineiro, o poeta e advogado Cláudio
Manoel da Costa foi encontrado morto
em um cubículo transformado em cela em
um sobrado onde hoje é a Casa dos
Contos, em Ouro Preto. A versão oficial
foi suicídio – mas a causa da morte ainda
não é consenso entre os historiadores.
“Em relação aos demais membros
da cúpula da Conjuração Mineira,
Tiradentes era o menos graduado
do ponto de vista de posição social
econômica. Era um militar do baixo
oficialato em meio a desembargadores,
advogados, grandes fazendeiros,
eclesiásticos e abastados homens
de negócios”, enfatiza Lucas Figueiredo.
Dessa forma, Joaquim era – daqueles que
faziam parte do movimento – de origem
mais humilde, o que pesou na decisão.
Soma-se a esse fato que Tiradentes foi
o único integrante da Inconfidência que
saiu às ruas fazendo propaganda contra
o regime português. Resultado: durante
o julgamento, quem detinha mais
posse conseguiu escapar da pena
máxima, trocando-a por prisão ou exílio.
Além disso, Tiradentes assumiu perante
o júri a sua participação no movimento.
“Ele era mais explícito nas suas falas.
Nos autos dos processos, até um pedinte
e prostitutas confirmavam que sabiam
da Conjuração”, comenta Antunes.
As historiadoras Lilia Schwarcz e
Heloisa Starling escrevem na obra
Brasil: Uma Biografia Que Tiradentes
chegou a confessar, por exemplo, “que
escolhia com cuidado as frases com
que devia aliciar novos partidários,
conforme percebia as características
e os interesses de seu interlocutor”.

POR QUE TIRADENTES
FOI O ÚNICO MORTO
NO MOVIMENTO?

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