Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
A Conjuração Mineira foi um movimento
que buscava a independência, em relação
a Portugal, das capitanias da região sudeste
do Brasil: Minas Gerais, Rio de Janeiro e,
para alguns integrantes do movimento, São
Paulo. “Era preciso ter uma saída para o mar
para construir um porto a fim de permitir o
comércio”, salienta o pesquisador e professor
da Universidade Federal de Ouro Preto, Álvaro
Antunes. Ele afirma ainda que por mais que
a cúpula do movimento defendesse que esse
território independente adotasse o sistema
político republicano, não havia uma definição
exata de qual conceito de “república” se tratava.
“Era um movimento que se inspirou no ideal
republicano, mas não definia que “república” era
essa. Existiam, na época três conceitos muito
presentes: a república como uma coisa pública
pertencente ao povo, a república e principados
italianos do período e o conceito dos Estados
Unidos, que era o mais forte entre os membros
do movimento”, explica o historiador. Além
disso, o movimento não defendia o fim da
escravidão e, como ressalta Antunes, “não havia
uma defesa da autonomia e independência
de toda a nação brasileira”. Mesmo assim,
foi o primeiro movimento na colônia que ousou
contestar o governo português, traçou planos
para romper com Lisboa e chegou a planejar a
instauração do primeiro território independente
na América do Sul. “Não é pouca coisa. Se
não obteve sucesso em seus objetivos práticos,
a Conjuração Mineira concebeu uma ideia
que até hoje continua de pé. E são as ideias
que movem a história”, afirma o jornalista e
pesquisador Lucas Figueiredo. A Conjuração
era formada por um grupo eclético: advogados,
juízes, comerciantes, fazendeiros, homens de
negócios, padres e membros de sociedades
secretas e irmandades leigas. Foi em 1788 que
o projeto de autonomia regional “foi formalmente
debatido em reuniões locais”, esclarecem Lilia
Schwarcz e Heloisa Starling.Várias motivações
econômicas e políticas contribuíram para a
Conjuração Mineira ser concebida. Uma delas
diz respeito à cobrança excessiva de tributos

O QUE DEFENDIA A
CONJURAÇÃO MINEIRA

la, Tiradentes conspirava abertamente e com gran-
de barulho – esse, afinal, era seu papel: tornar o
movimento conhecido”, enfatiza.
Joaquim não tinha o menor receio em con-
clamar mineiros e cariocas a se livrar da auto-
ridade portuguesa – fosse em recintos privados
ou não. Dependendo do público, especialmen-
te se estivesse em alguma taberna ou bordel,
Tiradentes “entremeava a pregação sediciosa
com modinhas que cantava ao violão”, detalham
as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Star-
ling, em Brasil: Uma Biografia.
Quando a Conjuração Mineira começou a ser
perseguida pelas autoridades portuguesas, a
maioria dos integrantes tentou pular fora e fingir
que não tinha relação com o movimento. Joa-
quim, porém, jamais cogitou essa possibilidade.
“Era também falta de juízo”, pondera o biógrafo.

REPRESSÃO, TRAIÇÃO E PRISÃO
Quando a repressão contra a Inconfidência Mi-
neira começou, em 1789, Tiradentes foi abando-
nado por quase todos os seus companheiros em
Minas Gerais e traído por alguns, como Joaquim
Silvério dos Reis, o primeiro grande delator da

PERSONAGEM


IMAGENS GETTY IMAGES/WIKIPEDIA COMMONS

por parte da Metrópole lusitana. Durante o período
colonial, o Brasil gerava muitos lucros à Coroa
portuguesa por meio da exploração do ouro
mineiro. Além disso, ainda eram cobrados altos
impostos da população: somente o “quinto”
equivalia a cerca de 20% do total de ouro extraído.
Para piorar, em 1788, com a extração do ouro
em queda, o governo português quis implantar a
chamada “derrama”, um imposto extra para atingir
a cota anual de 100 arrobas (que equivale a 1,5 mil
quilos) de ouro estipulada para a Coroa. Era o
estopim que faltava para a eclosão da Conjuração
Mineira. Em fevereiro do ano seguinte, a derrama
foi suspensa e o delator Joaquim Silvério dos Reis
foi o primeiro a denunciar o movimento. “Em maio,
os acusados, um a um, começaram a ser presos
e enviados para o Rio”, escreve o pesquisador
Eduardo Bueno na obra Brasil: Uma História.

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