Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1

CIÊNCIA


PARA DESPISTAR
OS IMPOSTORES E EVITAR
PERSEGUIÇÕES POLÍTICAS, OS
ALQUIMISTAS CRIARAM UMA
LINGUAGEM SIMBÓLICA

Encontrar a pedra filosofal era a
“grande obra” a ser realizada
pelos alquimistas. Com ela, seria
possível transmutar metais menos
nobres em ouro e obter o elixir da
vida eterna. Tudo indica que a
lenda surgiu em Alexandria, com
o nascimento da própria alquimia.
A tal pedra não seria apenas uma
rocha: poderia também ser um
líquido ou uma quintessência (um
elemento imaginário). Uma coisa
meio metafísica: se o alquimista
encontrasse o elixir da longa vida
ou se ele transmutasse metais em
ouro, teria, assim, encontrado a
pedra filosofal. A imagem ao lado,
de um livro de alquimia, mostra a
fórmula da produção da tal pedra.
Tudo em forma alegórica, para
apenas os inciados entenderem.

fugir das perseguições, seguiram para a Pérsia
(atual Irã). Lá, encontraram os seguidores do zo-
roastrismo, religião surgida no século 12 a.C., que
ficaram impressionados com a alquimia e a de-
senvolveram ainda mais.

SÓ POR ALÁ
Foram os árabes que colocaram o prefixo al, equi-
valente aos nossos artigos “a” e “o”, na palavra
kymiâ, cunhando o termo “alquimia”. Mas essa
está longe de ser a única contribuição dos muçul-
manos. O Alcorão, livro sagrado do islamismo,
pregava que os estudos científicos eram um dos
caminhos para desvendar a vontade de Alá. Logo,
a alquimia começou a atrair os melhores cérebros
árabes. O maior deles deu uma ajuda e tanto à
precária ciência da época. Diferentemente dos
colegas, Avicena (980- 1037) duvidava da trans-
mutação do ouro: preferiu focar suas pesquisas na
medicina, defendendo que remédios minerais e
químicos eram mais eficientes que os feitos à base
de ervas. O sujeito fez uma lista de substâncias
químicas, descrevendo as indicações e efeitos. Essa
farmacopeia foi levada para a Europa durante as
Cruzadas, a partir do século 12, e aceita como
obra-padrão até o fim da Idade Média.
Enquanto a alquimia pegava fogo no Orien-
te, na Europa as coisas eram diferentes. Os mou-
ros já ocupavam a Península Ibérica desde o
século 8, mas, mais de 400 anos depois, o povo
europeu ainda não conhecia a prática. Os inte-
lectuais da Europa medieval, em sua maioria,
ficavam dentro de mosteiros, sem contato com
os invasores árabes. Foi só quando chegaram ao
Oriente Médio, com as Cruzadas, que os euro-
peus foram apresentados à alquimia. Apesar do
desenvolvimento tardio, o estereótipo de alqui-
mista que povoa nossa imaginação é responsa-

bilidade da Europa medieval: um homem bar-
budo e sujo de fumaça, plantado em frente ao
forno e cercado por frascos e livros. Nessa época,
a alquimia confundia-se com o conceito cristão
de salvação. “Se você imaginar uma pessoa que
se aperfeiçoa, ela atinge a salvação. É mais ou
menos o mesmo processo com os metais: quan-
do eles se livram das impurezas, tornam-se
ouro”, comparou Arthur Greenberg, professor
de química e autor do livro From Alchemy to
Chemistry in Picture and Story (“Da Alquimia à
Química em Imagens e Histórias”), referindo-se
ao pensamento da época.
Foi também na Idade Média que a simbologia
alquímica fortaleceu-se. Para despistar os im-
postores e evitar perseguições políticas, os alqui-
mistas criaram uma linguagem simbólica. As-
sim, apenas os iniciados na técnica seriam
capazes de decifrar os livros. Estes, quando não
eram repletos só de desenhos, explicavam nos
textos os experimentos por meio de metáforas. Se

SÓ PARA OS ÍNTIMOS


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