Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
IMAGENS WIKIPEDIA COMMONS/GETTY IMAGES

Mas o suíço também se aventurou no lado místi-
co da alquimia. Certa vez, falou que havia encon-
trado a fórmula do elixir da longa vida e que vi-
veria para sempre. Acabou morrendo por uma
queda que sofreu numa taberna, bêbado.
Décadas depois da morte de Paracelso, o filó-
sofo inglês (1561- 1626) indicou o caminho der-
radeiro da alquimia. Bacon disse que, se algum
dia uma ciência genuína emergisse da alquimia,
ela seria baseada nas experiências laboratoriais
dos alquimistas. “A ideia de Bacon é verdadeira.
Os alquimistas produziram instrumentos, como
frascos de vidro e de argila, e poderosos reagentes,
como o ácido sulfúrico, o ácido clorídrico e o
ácido nítrico”, descreveu Greenberg.

A MÃE DA QUÍMICA
Esse lado do conhecimento alquímico, isento de
misticismo, serviu como base para que o anglo-
-irlandês Robert Boyle (1627-1691) publicasse O
Químico Cético, em 1661. Nele, Boyle abandona o
prefixo “al” como forma de retirar da nova ciência
o passado esotérico oriental, ataca a teoria grega e
define “elemento”: uma substância que não pode
ser decomposta em outra mais simples – conceito
bem próximo do atual (que é: elemento é uma
substância que não pode ser decomposta em algo
simples por uma reação química). O livro defende
que as experiências científicas devem ser repetidas
e comprovadas. Para isso, os químicos deveriam
usar termos-padrão e linguagem direta. Por isso,
Boyle é considerado o pai da química. O que sig-
nifica que ele abominava a alquimia, certo? Erra-
do. Boyle achava que os metais não eram “elemen-
tos” – logo, poderiam ser decompostos e
transmutados. Convenceu o Parlamento inglês a
revogar a lei antialquimia, que havia sido criada
no século 13 pelo rei Henrique III, para proibir a
manufatura de ouro por transmutação. O anglo-
-irlandês não estava sozinho no delírio alquímico.
Enquanto escrevia Philosophiae Naturalis Principia
Mathematica (“Princípios Matemáticos da Filoso-
fia Natural”), o físico Isaac Newton (1643-1727) se
dedicou com tal afinco à alquimia que chegou a
ter 138 livros sobre o tema. O inglês construiu um
forno nos aposentos da Trinity College de Cam-
bridge, onde morava, para experimentos: ele tam-
bém queria encontrar a pedra filosofal.

Qual a explicação para dois gênios como Boy-
le e Newton terem se envolvido com algo tão mís-
tico como a alquimia? “Creio que o interesse deles
era essencialmente científico. Sem a clara noção
do que é um elemento químico, a transmutação
não parece algo absurdo”, afirmou. “Também vale
lembrar que os dois homens eram muito religiosos
e que a alquimia está ligada a crenças espirituais.”
A partir do século 17, academias científicas
como a Royal Society de Londres começaram a
aparecer por toda a Europa. Essas instituições
eram frutos da revolução científica do século 16
(quando a ciência começou a se separar da filo-
sofia), pregavam a repetição dos experimentos
como método de comprovação científica e publi-
cavam os resultados em jornais. Postura oposta
à dos alquimistas, que escondiam tudo em sím-
bolos indecifráveis e diziam que, se uma pessoa
não conseguisse encontrar a pedra filosofal, é
porque ela não havia sido escolhida por Deus.
Todos esses fatos fizeram com que a alquimia
fosse esquecida pelas mentes científicas.
A alquimia, porém, nunca foi uma pedra no
caminho do desenvolvimento científico. Na bus-
ca pela realização dos dois maiores desejos da
humanidade (vida longa e conforto material), a
chamada “arte obscura” contribuiu e muito para
a investigação da matéria e para a química, na
medida em que desenvolveu instrumentos, en-
tendeu a natureza dos ácidos e isolou elementos
químicos. Em 1919, Ernest Rutherford (1871-
1937) tornou-se o primeiro a conseguir conver-
ter nitrogênio em oxigênio, por meio da reação
nuclear. Até chumbo e outro elemento químico,
o bismuto, já teriam, entre 1970 e 1980, sido
transmutados em ouro, embora em quantidades
minúsculas e a custos exorbitantes. No fim das
contas, os alquimistas estavam certos.

O FÍSICO INGLÊS ISAAC
NEWTON SE DEDICOU COM
TANTO AFINCO À ALQUIMIA
QUE CHEGOU A TER 138
LIVROS SOBRE O TEMA

Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

Free download pdf