Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1
IMAGEM WIKIPEDIA COMMONS AS OPINIÕES DOS COLUNISTAS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DA REVISTA

Com Berlim nas mãos do Exército Vermelho, o
almirante Dönitz movera a sede do governo para
Flensburg, uma cidade no norte da Alemanha, na
fronteira com a Dinamarca. Mas embora mostrasse
intenções de estabelecer uma nova administração,
nem norte-americanos nem soviéticos, os dois prin-
cipais Aliados, davam credibilidade a um regime que
era a continuação direta do III Reich e que mantinha
muitas figuras dos Partido Nazista em postos-chave.
Para contornar esta situação inusitada, Dönitz enviou
o general Alfred Jodl, chefe do Alto-Comando da
Wermacht, para a cidade francesa de Reims. Lá es-
tava situado o Quartel do general Eisenhower, Co-
mandante Aliado Supremo. Em Reims, Jodl escutou
de Eisenhower que “nada, senão a capitulação ime-
diata, simultânea e em todos os fronts” das tropas
alemãs era aceitável. Caso isso não ocorresse, Ike,
como o Comandante Supremo
Aliado era chamado, ordenaria
a “destruição total de todas as
forças alemãs”.
Depois de se consultar por
telefone com Dönitz, Jodl foi
autorizado a assinar a rendição.
Entretanto, havia um problema:
o oficial de ligação soviético
com os Aliados Ocidentais, ge-
neral Ivan Susloparov, não estava autorizado por
Moscou a assinar em nome da União Soviética.
Eisenhower e os alemães sabiam disso, mas, diante
da urgência em resolver a questão, no dia 7 de maio
de 1945, na sede do Alto-Comando Aliado em Rei-
ms, foi feita a assinatura do documento. O general
Jodl assinou pela Alemanha; o general norte-ame-
ricano, Bedell Smith, assinou em nome dos Aliados
Ocidentais; o general Susloparov pela URSS; e o
general francês, François Sevez, como testemunha.
Entretanto, seis horas depois das canetadas –
antes mesmo que a imprensa fosse autorizada a
liberar as imagens da cerimônia – Ike recebeu um
telefonema do quartel-general soviético na Berlim
ocupada dizendo que a assinatura era “inaceitável”
e que Stalin, o líder máximo da URSS, não ratifi-
cava a firma de Susloparov. Os soviéticos defen-

deram que o texto assinado era “vago”, pois, além
de não estar conforme os protocolos previamente
aprovados na Conferência de Ialta, deixava mar-
gem para interpretação. Apesar de falar em “ren-
dição incondicional de todas as Forças alemãs”,
em nenhum momento fazia menção ao desarma-
mento das tropas da Wermacht – algo que Eise-
nhower de pronto concordou.
Todavia, além das questões legais, havia o sim-
bolismo. A URSS foi quem mais sofrera – em cus-
to humano e material – com a Segunda Guerra.
Não à toa, até hoje o conf lito é conhecido na Rús-
sia como "A Grande Guerra Patriótica” e, tendo
derrotado “o invasor fascista” em sua capital, os
russos não aceitavam que a cerimônia de rendição
fosse feita em uma cidade na França. Teria de ser
em Berlim, marcando o fim do conf lito e o início
de uma nova era. Um novo do-
cumento foi então assinado em
8 de maio, em Berlim. Os sovi-
éticos também exigiram que
todos os principais Aliados e
um representante de cada For-
ça Armada da Alemanha assi-
nassem – e assim foi. Pela
URSS o marechal Zhukov; pe-
los EUA o general Spaatz; pelo
Reino Unido o marechal do Ar Tedder; e pela Fran-
ça o general De Lattre. Já pelas Forças Armadas da
Alemanha e pelo Exército alemão o marechal Kei-
tel; pela Luftwaffe o general Stumpff; e pela Krie-
gsmarine o almirante Von Friedeburg.
Embora no horário de Berlim ainda fosse dia
8 de maio, ao consultar a data em seu relógio, o
comandante soviético viu que em Moscou já era
dia 9 e, por isso, escreveu essa data no documento.
A cerimônia marcou o fim do conf lito mais mor-
tífero da História e o início de uma nova era para
a humanidade. No mês do Dia VE para os Aliados
Ocidentais (inclusive para nós, brasileiros) e do
Den Pobedy (Dia da Vitória) na Rússia e ex-Repú-
blicas Soviéticas e, diante de tantos desafios atuais,
que possamos celebrar a paz. A todos(as), um Fe-
liz Dia da Vitória (na Europa)!

A cerimônia de rendição
da Alemanha teria de ser
em Berlim, marcando
o fim da guerra e o
início de uma nova era

RICARDO LOBATO (@RICOLOBATO07) É SOCIÓLOGO E MESTRE EM ECONOMIA PELA UNB, OFICIAL DA RESERVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO
E CONSULTOR-CHEFE DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA EQUILIBRIUM – CONSULTORIA, ASSESSORIA E PESQUISA (@EQUILIBRIUM_CAP)

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