Saúde é Vital - Edição 446 (2019-09)

(Antfer) #1
A Sasa consiste em um conjunto de rea-
ções que os bichos exibem ao ficar sozinhos
ou separados de alguém querido. Seus sinais
mais comuns são as vocalizações excessivas,
a atitude destrutiva e o comportamento de-
pressivo — ou seja, a depressão em si é mais
um sintoma da síndrome. A confusão tam-
bém vem do fato de que os medicamentos
prescritos tanto para a Sasa quanto para a
depressão humana são os mesmos: os anti-
depressivos. Embora incorreto clinicamen-
te, o uso do termo “depressão” pelos vete-
rinários tinha um fim prático: servia para
explicar às pessoas a causa da apatia de seus
animais. “A depressão canina poderia ser
considerada, assim, uma espécie de ficção
útil”, concluiu Segata em sua tese.
A Sasa é o transtorno que mais afeta a
saúde mental dos bichos de estimação. Mas
não é o único. Muitos pets passam, a rigor,
a vida fora de seu habitat. Separados do
bando, vivem trancados em casas, estábu-
los, gaiolas ou aquários. Coibimos seu com-
portamento instintivo em nome das nossas
regras de convivência. Como reação à sua
natureza reprimida, podem desenvolver
um leque de comportamentos estranhos
ou, digamos, desagradáveis — pelo menos
aos nossos olhos. “Gatos, por exemplo, gos-
tam de explorar o ambiente. Se vivem pre-
sos, ficam irritados, entediados. Com cer-
teza isso afeta o estado emocional deles”,
diz o veterinário Renato Pulz, professor da
Universidade Luterana do Brasil, em Cano-
as, no Rio Grande do Sul.
O isolamento — pense aqui em um bi-
cho que fica o dia inteiro sozinho em um
apê — não só deixa nossos companheiros
ansiosos como pode torná-los mais vio-
lentos. É por meio da agressividade que
animais inseguros tentam controlar seu
ambiente. Essa, aliás, é a principal causa
das queixas de agressividade por parte dos
cuidadores. Outros motivos possíveis são a
defesa territorial, histórico de maus-tratos
ou até disfunções hormonais. Há, claro,
predisposições genéticas que devem ser

Cavalos também praticam
automutilação. Cerca de 70% dos
casos ocorrem com os garanhões,
os equinos não castrados que são
separados do resto da manada,
segundo a Enciclopédia de
Comportamento Animal (Elsevier).
Geralmente, o animal olha para o
lado, belisca partes do peito ou da
lateral do abdômen, gira 180º graus
e dá um chute com uma das patas
traseiras. Os cientistas ainda não
sabem se o comportamento tem
origem genética ou se é apenas
resultado da inquietação típica
da situação de isolamento. A
orientação dos veterinários é não
deixar o cavalo sozinho. Caso não
seja possível mantê-lo junto com
outros equinos, cães ou cabras
podem auxiliar na socialização.

CAVALOS
MASOQUISTAS

38 • SAÚDE É VITAL • SETEMBRO 2019

Free download pdf