Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

claudia.com.br setembro 2019 101


A COSTUREIRA NELSA NESPOLO CRIOU UMA


REDE SUSTENTÁVEL ENTRE FORNECEDORES


DA CADEIA PRODUTIVA DE ROUPAS


Ao observar um ciclo produtivo no
qual tanto os agricultores de algodão e
fabricantes de tecidos quanto as costureiras
não conseguiam obter recursos suficientes
para que seus negócios prosperassem,
Nelsa Nespolo encontrou uma solução
harmônica para todos. Ela fundou
a Justa Trama, organização que reúne
cooperativas de trabalhadores encarregados
das diversas etapas da produção
de roupas, brinquedos e acessórios
social e ecologicamente responsáveis.
No Ceará, o algodão orgânico é cultivado
pela Associação de Desenvolvimento
Educacional e Cultural (Adec); em versão
colorida, o material é produzido no Mato
Grosso pela Associação da Escola Família
Agrícola da Fronteira (Aefaf). Já a mineira
Cooperativa de Produção Têxtil de Pará de
Minas (Coopertêxtil) se encarrega da fiação
e da tecelagem. Por fim, a Cooperativa de
Costureiras Unidas Venceremos (Univens),
em Porto Alegre, é responsável pela
confecção. Foi nesta última que a rede
começou a se formar, em 2001, às vésperas
do Fórum Social Mundial, que aconteceu
na cidade naquele ano. “Recebemos
uma encomenda muito maior do que
estávamos acostumadas para produzir
sacolas que seriam distribuídas no evento”,
lembra a costureira, que foi buscar outros
fornecedores para dar conta do trabalho.
A partir daí, viu que fazia sentido manter
essa engrenagem funcionando. Desde
então, a Justa Trama se consolidou, sendo
reconhecida por sua prática de economia
solidária pelo BNDES. Além disso, seu
algodão orgânico passou a ser certificado
pela Fundação Banco do Brasil. Atualmente,
são cerca de 600 cooperados. Apesar da
distância entre eles, a horizontalidade das

NELSA NESPOLO | EMPREENDEDORISMO E NEGÓCIOS


“Esperamos que,


no futuro, os


trabalhadores


associados


sobrevivam só


da produção


ag roecológ ica”


NELSA NESPOLO, costureira

decisões entre os componentes é um dos
pilares. “Também temos a preocupação
de vender a preços que nós mesmos
pudéssemos pagar e de reaproveitar
as sobras para garantir que não vamos
impactar negativamente a comunidade”,
explica Nelsa. Por isso, retalhos são
encaminhados para a Cooperativa Açaí,
em Rondônia, que faz bonecas com eles e
botões com sementes. Os itens produzidos
pela rede são comercializados por etiqueta
própria e por marcas interessadas nos
insumos sustentáveis – elas usam os tecidos
da Justa Trama em roupas. Ao final, o
intuito é que cada associado receba o justo
pelo trabalho desempenhado. Todo ano, o
que sobra em caixa é repartido de forma
igualitária, fortalecendo os elos da trama.
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