Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

102 claudia.com.br setembro 2019


JEFFERSON DREZETT | ELES POR ELAS


“A s s i m q u e


a mulher vítima


de estupro


entra no


hospital, ela


passa a ser nossa


responsabilidade”
JEFFERSON DREZETT, ginecologista

vítimas, incluindo a realização de aborto.
“Apesar dos avanços, muitos municípios
não prestam esse apoio, que não requer
autorização federal. Eles escolhem quais
leis vão cumprir”, aponta Jefferson. Com
isso, o Pérola Byington recebe mulheres
até de outros estados em busca de
acolhimento. “Depois de tantos anos
ouvindo as histórias mais horríveis sobre
violência sexual, sei que não estamos
fazendo bondade, mas cumprindo um
dever”, diz o ginecologista, que, como
professor da Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo, treina
médicos para mudar essa realidade.

O GINECOLOGISTA JEFFERSON


DREZETT FORMULOU UM MODELO DE


ATENDIMENTO A VÍTIMAS DE ESTUPRO


O Código Penal, de 1940, estabelece
a legalidade do aborto no caso de
risco à vida da gestante e de gravidez
resultante de estupro. Cinco décadas
mais tarde, quando o ginecologista
Jefferson Drezett começou a trabalhar
no Hospital Pérola Byington, em São
Paulo, ainda não existiam modelos
abrangentes de atendimento a vítimas de
violência sexual e efetivação do aborto
legal pelos serviços de saúde no Brasil.
Foi Jefferson o responsável por iniciar no
Pérola Byington o serviço que se tornou
referência nacional e foi liderado por
ele nos 24 anos seguintes. “Na época,
havia certo custo social e olhares
desfavoráveis ao médico que se expunha
a um tema polêmico como o aborto”,
conta ele. No hospital, foram criados
meios de oferecer atenção adequada
às vítimas de violência sexual, unindo
acompanhamento médico e psicológico
à assistência social. Quando o estupro
resulta em gravidez, o aborto é realizado
sem constrangimentos. “As demandas
dos movimentos feministas nortearam
o modelo e ajudaram a humanizá-lo”,
afirma. Logo nos primeiros anos de
atividade, Jefferson e sua equipe
constataram a necessidade de oferecer
profilaxia contra DSTs às mulheres que
buscavam o ambulatório, em uma
iniciativa pioneira. As experiências
eficientes embasaram as orientações
do Ministério da Saúde sobre os
atendimentos pós-estupro nos anos
posteriores. Desde 2013, há uma lei
que obriga a assistência de saúde às
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