Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

18 claudia.com.br setembro 2019


Cultura


ntre as tantas fun-
ções que Fernanda
Young acumulou ao
longo da vida, uma
em particular toca
diretamente você,
que lê este texto. A
escritora, atriz, roteirista e apresen-
tadora de TV também foi, entre 2006
e 2008, colunista de CLAUDIA.
No espaço chamado “Cartas de
Fernanda Young”, todos os meses
tínhamos um pouco da genialidade
da responsável por sucessos como Os
Normais, Como Aproveitar o Fim do
Mundo e Minha Nada Mole Vida.
Sem medo de ser polêmica, escrevia
sobre feminismo e sentimentos, sexo
e política. Endereçou cartas (com crí-
ticas!) a seu grande ídolo, Madonna,
e até para o Papai Noel.
A coluna de Fernanda seguia a mes-
ma linha da sua personalidade forte,
contestadora e sem meias palavras,
que ficou conhecida em programas
de TV que apresentou, como Saia
Justa e Irritando Fernanda Young
(ambos do GNT), e até em seu alter
ego, Vani, personagem de Fernanda
Torres em Os Normais, da TV Globo.
Ela já “lacrava” muito antes de essa
expressão surgir na internet. Em seus
textos em CLAUDIA, distribuiu cutu-
cões necessários a inimigos, pessoas Foto

Mastrangelo Reino

Cedo demais, no último dia 25 de agosto, a escritora
Fernanda Young faleceu, com apenas 49 anos. Durante sua
trajetória profissional, sua história cruzou com a de CLAUDIA

FOREVER YOUNG


TEXTO BÁRBARA DOS ANJOS LIMA


caretas e políticos (“Roubem 10%
menos. Não é muito, não vai fazer
falta. E, daqui a quatro anos, todos
seriam corresponsáveis por um fato
inédito na história recente do Brasil:
o país teria melhorado”, escreveu,
depois das eleições de 2006).
Sobrou recadinho até para o
clitóris (“Nós dois, mais do que nin-
guém, sabemos que fingir funciona
quase da mesma forma, para efeitos
práticos.”) e para o pênis (“Você
não é melhor que ninguém, temos
o mesmo tamanho nesta história.
De fato, se você cabe em mim, sou
necessariamente maior do que você.”).
Já em 2006, ela adiantava dis-
cussões importantes sobre o corpo
perfeito, excesso de autocobrança
feminina e sororidade, termo que
entraria na moda nos anos seguintes
(“Chega de se comportar assim. Como
se estivesse lutando pelo posto de
rainha da bateria. De Miss Maravilha
do Mundo. Basta de ataques, dessa
competitividade suburbana... Me faz
querer usar um termo que odeio:

coisa de mulherzinha. Mulherzinha é
que tem essa mania de estar sempre
desconfiada das amigas, porque todas
teriam inveja do seu corpão e do seu
cabelão estilo falso-loiro-natural-
-cinco-tons.”).
Mandou recado carinhoso até
para quem não gostava dela: “Eu
te amo. E não seria metade do
que sou sem você, juro. É seu ódio
profundo que me dá forças para
continuar em frente, exatamente
da minha maneira”.
Com sua precoce morte, decorrente
de uma crise de asma, seguida de
parada cardíaca, a multifacetada
artista deixa o marido, Alexandre
Machado, e quatro filhos: as gêmeas
Cecília Madonna e Estela May, 19
anos; Catarina Lakshimi, 10 anos;
e John Gopala, 9 anos.
Para diminuir a dor de quem
fica, foquemos na sua obra, que é
eterna. São dezenas de série, cerca
de 14 livros e textos como o que re-
publicamos na coluna Ponto Final,
nesta edição (página 146).

Fernanda Young já “lacrava” muito antes de
essa expressão surgir na internet. Em seus textos
em CLAUDIA, distribuiu cutucões necessários
a inimigos, pessoas caretas e políticos

E

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