Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

Capa


Camisa, Louis Vuitton; brincos e anéis, H. Stern

Com transparência, compartilhou os detalhes de seu
casamento com o empresário Diego Nunes, em 2012,
e com a mesma sinceridade explicou aos fãs quando
o relacionamento terminou, em 2018. A naturalidade
também deu o tom quando saiu de Recife e instalou-
-se em São Paulo, há dois anos. Os limites de público
e privado são bem definidos, muito embora o dia a dia
possa virar pauta de alguma maneira. “Já tive FoMO
(do inglês, fear of missing out ou o medo de estar per-
dendo algo), mas agora não mais. Nunca foi o meu per-
fil compartilhar online 100% da minha vida particu-
lar. Eu falo: ‘Estou vivendo o meu momento e não vou
postar’ ”, explica.
Em agosto, o Instagram retirou a contagem dos
likes, medida que foi muito discutida por quem cria
conteúdo digital. Mas há tempos os números não preo-
cupam Camila. “Não é mais sobre quantidade. Hoje, a
medida são os valores e o posicionamento do influen-
ciador. É sobre as características que você tem, o que
representa e o que engaja.” Outro comportamento co-
locado em xeque é a ostentação associada ao cotidiano
das influenciadoras digitais em contraste com as dis-
cussões recentes sobre consumo consciente e sustenta-
bilidade. “Sei que posto itens caros, de marcas caras,
mas tento apresentar de maneira que proponha ideias,
não só coisas. Quero mostrar que estilo não está ligado
a dinheiro. O bonito é a informação que chega às pes-
soas”, argumenta.
Não há mais espaço para o irreal, que por bastante
tempo seguiu travestido de aspiracional – ainda mais
porque os bastidores nem sempre são glamourosos.
Prova disso rolou em sua passagem por Cannes, em


  1. Às vésperas de riscar o tapete vermelho de uma


série da Netflix, sentiu-se estranha. “Foi a primeira vez
que tive sintomas físicos de ansiedade num misto da mi-
nha cobrança com a cobrança externa”, relembra. Nin-
guém suspeitou que ela passara por isso. Pelo contrário,
foi elogiadíssima pela elegância e estampou a página
inicial de vários sites de moda. “A gente se habitou à cul-
tura da ‘lacração’. Eu tenho que lacrar, tenho que arra-
sar”, desabafa. “Hoje em dia as pessoas não se conectam
mais com isso. Agora, é a época 2.0, em que as influen-
ciadoras precisam se mostrar vulneráveis porque essa
postura aproxima mais do que a tentativa de perfeição.
Conversas assim são importantes para desconstruir o
que nós mesmas construímos”, afirma Camila.
Há ainda mais desafios em ser uma voz ativa em um
cenário em constante transformação, como o digital. O
principal deles é manter-se relevante. Por isso, não se
pode ter medo de tentar o novo – seja em forma, con-
teúdo ou até comportamento. O terreno ajuda. Para
ela, uma das belezas desse trabalho é poder manuseá-lo
como massinha de modelar. É possível se renovar com
rapidez e sem tanto receio do erro, porque ele é muito
mais efêmero. “Eu gosto de fazer coisas diferentes. Não
fico feliz quando me vejo num lugar-comum. Nas mi-
nhas redes, acho legal o balanço de uma imagem linda,
uma selfie e um outro tipo de conteúdo, sobre outro as-
sunto. Dá medo de se expor, de falar bobagem. É claro
que passa pela cabeça. Então eu mando para algumas
pessoas assistirem antes, pergunto se está bom e arris-
co. O legal é poder continuar se reinventando.”
Agarrada a esse espírito destemido é que ela plane-
ja e encara os próximos passos. Com o frio na barriga
que bate em momentos importantes, está treinando a
apresentação que fará no TEDx, na Palo Alto College,
no Texas, nos Estados Unidos, no dia 14 deste mês. Ao
mesmo tempo, traça estratégias para fortalecer cada
vez mais o site onde tudo começou. Está no IGTV, do
Instagram, falando de tendências do mundo digital.
“Hoje, me considero uma comunicadora. Isso inclui
ser influenciadora digital e não acho ruim ser chamada
dessa maneira, mas também estou em outros lugares e
essa é, afinal, a raiz do meu trabalho”, defende. Pensa
em testar novos formatos – além do livro e da internet.
Televisão? Rádio? Quem sabe? A Camila Coutinho de
hoje, assim como a jovem visionária de uma década
atrás, está sempre pronta para tirar o máximo proveito
da próxima oportunidade que aparecer.

Hoje, me considero uma
comunicadora. Isso
inclui ser
influenciadora. Não
acho ruim ser chamada
assim, mas também
estou em outros lugares

62 claudia.com.br setembro 2019

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