Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

Perfil


Agora, aos 40 anos,
pela primeira vez estou
sabendo melhor o que
quero, tenho noção
de quem eu sou

Impossível olhar para trás e não ficar tocado.” A data tem
mesmo história. “Dava um curta-metragem”, ri. Logo de
cara, Bruno, que aterrissou em Milão no dia 26 de maio
de 2005, errou no figurino. “Eu estava com roupas de in-
verno e fazia o maior calor”, lembra. Também não tinha
euros no bolso. “Levei dólares para trocar. E poucos.” Do
aeroporto à agência de modelos, outra saga. “Ninguém
foi me buscar. Quando cheguei lá, me deram o mapa da
cidade e disseram: ‘Se vira que hoje já tem teste’.” Sem
falar italiano nem conhecer a região, acabou perdendo
quase todos os compromissos. “Descia na estação errada
do metrô e saía correndo pelas ruas. Uma odisseia. Eram
cinco testes e só consegui fazer um. Ainda por cima, não
passei”, conta. “Naquela época, não tinha a tecnologia de
hoje. Aliás, eu não sabia nem usar o telefone público.”
Morrendo de fome e de calor, o canceriano dramático,
como se define, chorou. “Só tinha tomado café da manhã,
às 8 horas, no avião. Eram 18 horas e não tinha comido
nada. Fiquei rodando a cidade com a mochila nas costas.
Sentei em uma calçada e chorei de cansaço”, diz, emo-
cionado. “O que eu estava fazendo ali? Até hoje, quan-
do passo por aquela esquina, me lembro de tudo.” De vol-
ta à agência, com a certeza de que iria finalmente para o
apartamento onde ficaria em sua passagem pela Itália,
Bruno foi chamado para a última prova do dia. Um dos
modelos de um desfile havia desaparecido e precisavam
colocar outro em seu lugar. “Éramos dois tentando a vaga
e eu fui o escolhido. Estava exausto, nem sabia o que fa-
zia, mas desfilei. Da passarela avistava o Duomo de Mi-
lão (a catedral). Parecia que eu estava em um filme, coisa
de louco”, conta. “Passei por muita coisa boa e ruim, mas
tudo isso me trouxe até aqui. Então faria de novo.”
Seis meses depois, em janeiro de 2006, Bruno esta-
va jogando no clube italiano Alessandria. “Havia saído

do Brasil porque me sentia frustrado. Sempre fui mui-
to ansioso, não conseguia esperar. Sofria. Achava que,
com 22, 23 anos, já estaria velho. Então, resolvi tentar
a última cartada lá fora”, diz. Não deu certo. Em junho
de 2008, ainda no Alessandria, parou definitivamen-
te. “Foi um período complicado, estava triste, já nem
assistia mais aos jogos na TV. Era um sonho de criança
interrompido”, lamenta. “Aprendi muito com isso.”
Bruno não desistiu de ir atrás de uma vida melhor na
Itália. “Fiquei perdido, mas não ia voltar para o Brasil
derrotado, com o rabo entre as pernas.” Arregaçou as
mangas e foi trabalhar como garçom, motorista de ho-
tel, relações-públicas de boate... Nessa época, ele já ti-
nha conhecido a italiana Maria Caprara, com quem tem
dois filhos, Gaia, 8 anos, e Elia, 5. O casal ficou junto
até 2015. Bruno prestou vestibular para comunicação
na Universidade de Milão e retomou a carreira de mo-
delo. “Nunca foi minha praia, mas, casado e com filhos,
precisava de dinheiro. Entrei em forma, fiz um book e
trabalhei muito”, lembra ele, que logo teve que trancar
a faculdade – no Rio, tinha chegado a cursar até o ter-
ceiro semestre de fisioterapia. Com tantas aparições, foi
procurado para participar da série Cosi Fan Tutte. “A l i
surgiu a vontade de ser ator e de estudar teatro”, conta.
“Quando eu era criança, ficava encenando espetáculos
em festas de família. Depois, escolhi o esporte. A vida
me trouxe de volta para o mundo artístico. Até quando
eu jogava bola, recebia propostas para fazer comerciais,
desfilar. Só que não podia, estava sempre treinando.
Hoje, parece que fui atleta em outra vida. Sou ator e não
consigo me imaginar fazendo algo diferente.”
Antes de dar qualquer resposta sobre a vida pessoal,
Bruno reflete bastante. Quando conversamos com o ator
pela primeira vez, ele garantiu que estava solteiro. “Por
que a pessoa tem que namorar, casar ou juntar? Solteiro,
sim. Sozinho? Nunca estarei”, assegurou, mostrando cer-
to desconforto com o assunto. O último relacionamento
havia sido com a atriz luso-inglesa Kelly Bailey, 21 anos,
de quem se separou em 2017, depois de dois anos de ro-
mance. “Passei a vida toda namorando, casado, sei lá. Pa-
rece clichê, mas só fui tentar entender quem eu sou quan-
do me separei da Kelly. Agora, aos 40, pela primeira vez
estou sabendo melhor o que quero, tenho noção de quem
sou.” O período de reflexão parece ter dado certo. Dias
antes do fechamento desta edição, pipocaram as notícias
de que ele e a atriz Carol Castro, sua colega de elenco em

66 claudia.com.br setembro 2019

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