Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

74 claudia.com.br setembro 2019


Especial Sexo


m 1949, a filósofa Simone de Beauvoir
escreveu em Segundo Sexo, obra que se
tornaria referência para os movimentos
feministas: “Na cama, a mulher aguarda
o desejo do homem, espera, por vezes
ansiosamente, seu próprio prazer”. Naquele momento, as
mulheres lutavam pelo direito de trabalhar e, nas décadas
seguintes, com a pílula anticoncepcional, ganharam mais
autonomia para planejar a gravidez.
Hoje, não esperam mais pelo próprio prazer e guiam,
elas mesmas, essa busca. Com a reinvenção do feminismo,
na última década, estimulado pela discussão de ideias nas
mídias sociais, uma nova geração de mulheres adentra
a vida adulta com outras perspectivas sobre a sexuali-
dade – mais centradas nelas e menos preocupadas em
atender a convenções ultrapassadas. Concentradas na
faixa dos 20 aos 40 anos, se insurgem contra a violência
nas relações, o descaso e a ignorância sobre o que lhes
dá prazer. Além de poder decidir, elas querem gozar. Há
um deslocamento sobre a percepção da sexualidade, que
passa a incluir as mulheres no papel de protagonistas e
tem o consenso como base na hora do sexo. Assim, não
seria exagero afirmar que elas abrem frente para uma
nova revolução sexual.

E


SEXUAL


REVOLUÇÃO


Mobilizadas pela reinvenção do feminismo, uma nova
geração de mulheres demanda mais liberdade e coloca
em primeiro plano a busca pelos próprios orgasmos,
abandonando vetos que reprimem a sexualidade feminina

TEXTO LETÍCIA PAIVA ILUSTRAÇÕES ELISA RIEMER

“Ainda que nas décadas passadas tenha se iniciado uma
revisão comportamental, a grande mudança aconteceu
nos últimos anos. A mulher não se expressava. Agora se
permite fazer escolhas sem tanta culpa nem estereóti-
pos”, afirma Heloísa Buarque de Hollanda, professora
aposentada de sociologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e autora do livro Explosão Feminista:
Arte, Cultura, Política e Universidade (Companhia das
Letras). Se antes as conversas sobre sexualidade feminina
ficavam confinadas a grupos de amigas, com o que a soció-
loga chama de a “explosão” elas passaram a compartilhar
experiências via redes sociais. Essa ampliação permite que
o debate vá, pouco a pouco, atingindo diferentes perfis e
gerações de mulheres. “Hoje, até a mãe de família mais
recatada tem acesso à internet, e sua cabeça já começa a
mudar ao ter contato com as filhas, que vivem este mo-
mento”, explica Heloísa. Nesse espaço recente, por vezes,
elas percebem que não são as únicas a enfrentar certas
situações e a estar insatisfeitas com suas experiências
sexuais. Ao mesmo tempo, trocam vivências positivas.
Após um relacionamento que não lhe trazia nenhum
prazer e a deixava insegura para explorar o próprio
corpo, a carioca Roberta publicou um pedido de ajuda
em um grupo de Facebook que reúne mulheres de todo
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