Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

claudia.com.br setembro 2019 75


o Brasil. Conforme descrevia no post de 2016, Roberta
não conseguia ter orgasmos e cada relação sexual era um
fiasco. “Na época, eu tinha um namorado que rechaçava
masturbação feminina, sentia nojo de sexo oral feminino
e não se importava com meu prazer”, conta a jovem de 24
anos, estudante de pedagogia. No entanto, suas questões
eram ainda mais complicadas, remontando à infância –
aos 8 anos, havia sido estuprada por um primo; aos 14,
a relação que entendia como a do fim de sua virgindade
também acontecera à força. Dali em diante, todas as
suas experiências sexuais a lembravam das violências. O
contato com outras mulheres, ao vivo e virtualmente, fez
com que despertasse para o impacto dessas vivências em
sua sexualidade e a repensar a forma como a conduzia.
“Passei a me masturbar, encontrei prazer no sexo ao me
relacionar com homens com pensamentos mais abertos e
me assumi bissexual. Agora, sou muito mais plena”, afirma.
O nome dela e o de outras mulheres que compartilharam
suas experiências com a reportagem foram trocados para
preservar a privacidade delas.
A geração de Roberta admite a possibilidade de expe-
rimentar diferentes práticas sexuais e de não se limitar a
identidades de gênero e orientação sexual predefinidas.
“Surge a noção de sexualidade fluida, mais aberta à di-
versidade e mais livre de tantos estereótipos sobre o que
é sexo”, aponta Carolina Ambrogini, coordenadora do
Projeto Afrodite, que orienta mulheres sobre sexualida-
de e está instalado no Departamento de Ginecologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Romper
com os estereótipos implica novas formatações para re-
lações sexuais – isto é, foge ao protocolo que entende sexo
apenas sob o ponto de vista das relações heterossexuais
e da penetração – e para os papéis de gênero desempe-
nhados. Em busca de parceiros que façam sentido, os
nativos digitais usam ainda a tecnologia, o que inclui
tanto os aplicativos de relacionamento quanto o envio e
recebimento de sexts (termo em inglês para as mensagens
e fotos de cunho sexual, mais populares entre os jovens).
E, embora a qualidade das parcerias seja preponderante
para definir quando e se terão satisfação, o prazer passa
a ser entendido como algo a ser conquistado também por
si mesmos. “Antes, eu acreditava que os outros me fariam
ter experiências e que, se conseguisse namorados legais,
isso se resolveria por si só”, conta Roberta.
Quando adolescente, Stella, curiosa com os mistérios
do próprio corpo, obtinha informações de programas
de TV para jovens, dada a quase inexistência de diálogo
sobre sexo com a família. Foi o bastante para depreender

210x280mm


*deixar este lado mais limpo, com


fundo claro, para preservar leitura

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