Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

claudia.com.br setembro 2019 77


foco no que eu queria para minha carreira. Esse tipo
de ação é muito diferente do meu comportamento
habitual”, conta Maria Luísa. Como mulher solteira,
ela está tranquila e não pensa em encontrar imediata-
mente um parceiro ideal, capaz de satisfazer todos os
seus desejos – nem mesmo em se jogar em uma busca
desenfreada pelo sexo perfeito.
Embora as mulheres tenham conquistado mais espaço,
a livre manifestação de suas vontades no sexo enfrenta
reações adversas – aqui incluídas múltiplas alternativas,
desde violência física até pornografia de vingança. As
agressões, frequentemente, giram em torno de estereó-
tipos que determinam o comportamento das mulheres.
As tentativas de exercer a própria sexualidade são con-
denadas. “A mulher pode sofrer muitos reveses quando
inverte a lógica do sexo pelo prazer masculino ou para
a reprodução”, afirma a jornalista e escritora manauara
Nadia Lapa, respaldada pela própria experiência. Em
2012, aos 31 anos, sofreu o que hoje seria chamado de
linchamento virtual após criar um blog no qual relatava
as aventuras sexuais do início dos seus 30 anos. “O que
seria diversão se tornou um problema. Muitos comentá-
rios eram bastante cruéis, chegavam a detalhar como eu
deveria morrer”, conta sobre as mensagens que recebia.
A motivação para as ofensas em grande medida
estava no fato de ela ter resolvido transar com quem
bem entendesse e narrar isso. As agressões se intensi-
ficaram quando veio a público que a autora dos relatos
era gorda – e porque supunham que fosse do Nordeste.
“Eu pensava que experimentava minha sexualidade
de maneira livre, mas tinha dificuldade em recusar a
atender pedidos que não me agradavam”, lembra Na-
dia. Resolveu então relatar situações que a deixavam
desconfortável nas relações e, a partir daí, houve uma
virada no tipo de comentários em suas publicações.
“Passei a receber também e-mails, por vezes de pessoas
que eu conhecia na vida real, revelando que já haviam
sofrido violências e abusos.” Com a experiência, buscou
referências para entender por que era alvo de tamanho
ódio – e por que tantas outras mulheres eram submeti-
das a cenas degradantes durante o sexo. Encontrou na
literatura feminista algumas respostas, logo no início
da reinvenção do movimento. “Não imagino que meus
relatos teriam recepção diferente se fossem publicados
hoje, mas acredito que teria maior proteção por parte das
mulheres”, conclui Nadia. Sem que a repressão tenha se
esgotado, elas criam novos escudos e formas alternativas
de apoiarem umas às outras.

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*deixar este lado mais


limpo, com fundo claro,


para preservar leitura

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