Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

82 claudia.com.br setembro 2019


Especial Sexo


eu mato as bactérias boas com excesso de antibióticos,
o fungo se aproveita disso e cresce”, explica Cláudia. A
pílula anticoncepcional é outro fator que está associado
ao aparecimento da candidíase, devido à queda brusca
no nível hormonal que ocorre durante as pausas.
Até mesmo a dieta pode alterar o pH vaginal e agravar
as crises. Carboidratos e laticínios são contraindicados,
pois fermentam, potencializando a proliferação do fungo.
“Deve-se controlar ainda o consumo de açúcares, que
levam a um pH mais ácido, menor do que o ideal”, orienta
a especialista. Já os probióticos, presentes em iogurtes,
por exemplo, não têm eficácia comprovada. Sua ação
seria, quando muito, indireta. Como influenciam na flora
intestinal, acredita-se que o efeito poderia se estender
para outras partes do corpo, inclusive para a flora vaginal.
A falta de informação, contudo, leva a situações ar-
riscadas. Por se tratar de uma infecção comum, muitas
vezes as mulheres recorrem a técnicas caseiras e receitas
familiares – para desespero dos médicos. Há, por exem-
plo, quem aplique iogurte na vagina. “A mulher não sabe
como está a flora dela e qual o tratamento mais indicado.
Aí coloca alho, vinagre. Isso pode bagunçar ainda mais
o quadro”, aponta Cláudia. Segundo a ginecologista, a
automedicação desequilibra a flora vaginal, o que gera
problemas no longo prazo. “É muito mais trabalhoso
rearranjar a flora do que tratar a candidíase”, resume.
Pomadas com corticoides também não podem ser utili-
zadas para prevenção sem recomendação médica – e as
hidratantes servem apenas para aliviar as consequentes
assaduras. Quanto à higiene vaginal, dê preferência a
sabonetes neutros, que não interferem no pH. A lim-
peza deve ser superficial, com movimentos delicados
e sem adentrar o canal. Polêmico, o uso contínuo de
sabonetes íntimos não é aconselhado. “Para algumas
mulheres pode não causar nada, mas para outras é a
fagulha necessária para levar à candidíase”, explica. O
ideal é nunca investir em um tratamento sem a devida
orientação ginecológica. Às vezes, a infecção recorrente
permite até identificar problemas subjacentes. “Um
dos fatores que provocam a candidíase são as doenças
autoimunes, como lupus ou câncer, e, em casos raros,
até mesmo a aids”, afirma Cláudia.

CISTITE, A INFECÇÃO DA LUA DE MEL
Outro problema que pode atrapalhar o sexo é a cistite, a
infecção urinária mais comum , que até ganhou o apelido
de cistite de lua de mel. A encrenca geralmente aparece
após a relação sexual. Quem tenta fazer sexo enquanto

a infecção está ativa pode sentir desconforto agudo
no baixo ventre ou na área do períneo (entre a vulva e
o ânus). Ela também não é uma doença sexualmente
transmissível e não há risco de contaminar o parceiro.
A cistite começa com as preliminares, quando as
bactérias – a maioria da espécie Escherichia coli – são
deslocadas do ânus para a uretra durante a fricção
entre mãos, partes íntimas e eventuais brinquedos
sexuais. Dentro da uretra feminina, três vezes mais
curta que a dos homens, os microrganismos chegam
facilmente à bexiga.
Para preveni-la, recomenda-se urinar imediatamen-
te após o sexo e não segurar o xixi ao longo do dia. A
urina ajuda a limpar a uretra e não deixa que a colônia
de bactérias tome conta. A higiene deve ser feita com
água ou com papel higiênico – no sentido de frente para
trás. Evite o uso de preservativos com espermicidas,
porque modificam a flora vaginal e abrem espaço para
os agentes infecciosos ganharem terreno.
O mais importante de tudo, entretanto, é procurar
um médico assim que surgirem os sintomas da doença.
Não recorra à automedicação. A matança das bactérias
do bem pode trazer consequências bem mais sérias.
“O uso indiscriminado de antibióticos tem levado ao
aparecimento de resistência bacteriana”, alerta a gi-
necologista Iara Linhares, professora da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. Quando não
se adota o remédio específico ou correto, morrem os
microrganismos capazes de controlar as bactérias do
mal, que se tornam mais fortes a cada nova mutação.
Se não for tratada adequadamente, a cistite pode se
tornar recorrente, e a dor constante atrapalha não
só a rotina mas também a vida sexual. “A principal
complicação é a progressão da infecção para os rins,
causando a pielonefrite”, explica Iara. Nesse caso, a
pessoa sente ainda dor na região lombar, calafrios e
apresenta febre alta. Dependendo da gravidade, pode
haver até necessidade de internação.

“Precisamos aprender desde cedo
a cuidar da vagina e se preocupar
com a relação e o sexo”
CARMITA ABDO, psiquiatra
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