Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1
Agradecimentos

à Entidade de Turismo do Governo da Cidade de Buenos Aires e ao hotel Hub Porteño

; Foto da marcha

Getty Images

86 claudia.com.br setembro 2019


Mulheres argentinas


eclarar-se feminista no Brasil ainda é
motivo de polêmica. O conceito é mal
compreendido. Tentando evitá-lo, mui-
tas afirmam que querem a igualdade
de direitos entre homens e mulheres,
mas não são feministas. A consequência
disso não se restringe à linguística.
Evitar assumir o feminismo esmorece o movimento. Mas
esse não é o único motivo de termos uma rede nacional
enfraquecida, que encontra muita resistência e dificul-
dade para conseguir vitórias em suas causas. A questão
envolve a formação social e de classe, fatores históricos
e até a insegurança de se colocar na linha de frente. A
esperança, porém, permanece. E a luta também, é claro.
Seguir otimista e com olhos no futuro exige, por vezes,
situações e palavras inspiradoras – e isso está mais perto
do que imaginamos. Na Argentina, nossas hermanas têm
obtido êxitos expressivos e marcantes.
Em 2015, o movimento Ni Una Menos organizou
marchas em diversas cidades do país. A campanha foi
tão forte que outras nações seguiram o exemplo ou se
juntaram às argentinas na mesma data. Todas protes-

tavam contra os altos índices de feminicídio. “Os crimes
aconteciam, mas não tinham destaque nos meios de
comunicação; não ressoavam no âmbito político nem no
social – até que Chiara Páez, adolescente de 14 anos, foi
assassinada pelo namorado. Depois disso, uma jornalista
tuitou uma convocatória às mulheres: ‘Estão nos matando.
Não vamos fazer nada?’ ”, lembra Ana Correa, uma das
fundadoras do movimento. Ana, algumas colegas dela,
ativistas e artistas mobilizaram então uma rede. Criaram
uma hashtag que se espalhou pela internet e conversaram
com governantes e organizações. “A comunidade toda se
sentiu impelida a participar. Não era uma questão em que
você podia escolher lado. Era transversal.”
Três anos mais tarde, as mulheres voltaram a tomar
as ruas argentinas. Dessa vez, milhares apareceram com
lencinhos verdes, os pañuelos, amarrados na cabeça e
nos braços. Eles são símbolo da luta pelo aborto legal,
seguro e gratuito, projeto de lei que estava em discussão
fazia alguns meses e tinha sido aprovado pela Câmara
dos Deputados. Atualmente, a interrupção da gravidez
é crime, exceto em caso de estupro ou se oferecer risco à
vida da mãe. O Senado vetou o projeto de lei, mas elas não

Marchas volumosas, discussões públicas de questões de gênero, inclusão de temas
na agenda política. O movimento feminista argentino conquistou vitórias que,
para a maioria dos países latino-americanos, ainda são inéditas. Nossas vizinhas
oferecem inspiração e força para a luta seguir firme por aqui também

TEXTO ISABELLA D’ERCOLE FOTOS LUCAS LANDAU


O futuro é


RESISTÊNCIA


D

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