Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

claudia.com.br setembro 2019 89


nem seguissem estudando. Conseguimos frear essas
violências e, assim, salvamos o futuro dessas jovens”,
afirma Luciana. O movimento jovem é potente. Daqui
em diante, a discussão é por mais direitos, liberdade e
segurança. Mesmo que as leis não sejam aprovadas de
primeira ou que a oposição siga criando obstáculos, a
resistência das meninas é forte. “É a geração que vai nos
levar a uma sociedade muito distinta”, declara Ana Correa.
Mas o feminismo não é só uma herança familiar ou
um comportamento aprendido em casa. As argentinas
têm a vantagem de contar, desde 2006, com uma lei
que garante a educação sexual nas escolas. Aprendem
sobre o próprio corpo e o do outro, enxergam com mais
clareza situações de abuso e assédio, reduzem os tabus.
“É o único caminho para assegurar que o desejo feminino
não seja uma decisão exclusiva dos homens. Hoje, tudo
que a mulher almeja é julgado. Ela é criticada por ter
filhos demais, por não querer ser mãe, por transar ou
por dizer ‘não’ ”, afirma Luciana. Deve-se também levar


em consideração o papel das redes sociais. Com acesso
maior à internet e uso constante dela, as garotas conse-
guem se organizar e se informar com mais facilidade.
Até os memes apareceram na época das marchas e, com
humor, mostravam os pontos que as mulheres pró-aborto
defendiam ou tiravam sarro da oposição.
A Argentina está longe de ser um paraíso para as mu-
lheres. Os números mostram que a disparidade salarial é
grande, que a divisão de tarefas não é justa e que ainda
há muitos crimes de gênero. Mas é a vontade de lutar que
diferencia o país. “Nossa capacidade de nos organizar não
deve ser vista com superioridade. Pelo contrário. Entendo
que é nosso dever agora olhar para o restante da América
Latina e ajudar as que não têm a mesma segurança para
exigir direitos iguais”, afirma Luciana. E, para quem anda
com o coração pesado diante da batalha, fica o essencial
recado de Ana: “O fascinante é que o feminismo acaba
com a angústia e coloca você no lugar de ação, mostra
seu verdadeiro poder pessoal”.

“A comunidade toda se sentiu impelida a participar. Não era


uma questão em que você podia escolher lado. Era transversal”


ANA CORREA, JORNALISTA E COFUNDADORA DO MOVIMENTO NI UNA MENOS

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