Claudia - Edição 696 (2019-09)

(Antfer) #1

92 claudia.com.br setembro 2019


ser a protagonista. Os vegetais temperados farão com que
você esqueça qualquer churrasco.
No ambiente, a cozinha exposta é o destaque. Da mesa,
veem-se cozinheiras comandando a chapa com destreza.
Uma venezuelana, que começou servindo e hoje cuida da
finalização das receitas, posiciona ervas e temperos delica-
damente sobre os pratos. Narda já teve outros restaurantes,
mas é conhecida pelos programas de TV. Em um deles,
viajava o mundo para cozinhar com outros chefs e mostrava
aos argentinos produtos locais. A preocupação com toda
a cadeia de produção pode ter surgido nessa época. Hoje,
ela sabe até quem é o homem que faz as panelas usadas
no Comedor. “Vou conhecer quem cuida das cabras que
dão o leite para a fabricação dos queijos, quem planta as
hortaliças... Asseguro que o processo seja respeitoso com
o meio ambiente e a comunidade”, diz.
Perto dali fica o Orilla, restaurante moderno com
cardápio enxuto, entregue com perfeição. Entretanto,
a estrela é a carta de bebidas. Troque os vinhos pelos
drinques de Inés De Los Santos, especialista em com-
binar sabores inovadores. A trajetória dela foi cheia de
percalços. Já ouviu de muitos homens questionamentos
sobre sua profissão. “Eles perguntavam: ‘Você sabe mesmo
fazer esse drinque?’. E, depois de terem tomado, comen-
tavam: ‘E não é que ficou bom?’ ”, lembra. Nunca deu
ouvidos, continuou praticando. Ela acredita que você só
é bartender depois de preparar, pelo menos, o milésimo
mojito. “Antes é amador”, garante. Inés atuou na área
mesmo durante as grandes crises econômicas argentinas.
Precisou descobrir sozinha caminhos de importação de
matéria-prima. “Quando achávamos bebida boa, saíamos
correndo e comprávamos todo o estoque. Ao mesmo tem-
po, isso me estimulou a trabalhar com itens que estavam
à nossa disposição, como o vinho. Fiz muitos coquetéis
com nossos produtos locais”, conta. Não dá para perder
as releituras do Spritz, que leva suco de pepino, e do Old
Fashioned, com bitter de chocolate.

De encher os olhos
O Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba)
é unanimidade entre os turistas. A casa do Abaporu, de
Tarsila do Amaral, entra em qualquer roteiro. O que poucos
sabem, contudo, é que a capital tem acervo de arte extenso,
inclusive com outras instituições renomadas. Espalhar essa
informação e atrair mais visitantes é responsabilidade de
Marina von der Heyde, gerente institucional e de operações
do Museu de Arte Moderna. Localizado em San Telmo,

Mulheres argentinas


onde acontece a feira de antiguidades e artesanato aos
domingos, o museu oferece visitas guiadas em português,
tem parcerias com ônibus de turismo para ser ponto de
parada e distribui um mapa do bairro para quem passa
por ali e não conhece a instituição. Mas, para estimular a
arte de maneira mais profunda na sociedade, uniu-se aos
times de futebol, em uma aliança com as equipes de base.
“Já temos o Boca Juniors, San Lorenzo... As crianças vêm
aqui, passeiam. A ideia é que incorporem esse hábito desde
jovens e passem isso adiante”, explica Marina. Com tantas
iniciativas, a meta é atingir 300 mil visitantes neste ano.
Não é só nas artes plásticas que se concentram as
descobertas culturais. Experimente trocar o show de
tango pela nova mania entre os portenhos, as peças de
15 minutos em cafés ou bares pelos bairros hipsters,
como Palermo Soho. Quem dá a dica é a atriz e produtora
Martina Gusmán, conhecida internacionalmente pela
participação em O Marginal, série da Netflix. Nos últimos
meses, quando não está gravando, gosta de prestigiar os
amigos no que ela chama de microteatro. O formato foi
importado da Espanha e permite que várias histórias
sejam apresentadas em uma única noite. “Como exige
pouco tempo dos atores, tem atraído até grandes nomes
da área”, explica. E, para o turista que não fala espanhol,
a ideia é maravilhosa. Facilita o entendimento e a proba-
bilidade de ficar perdido é menor.
Andar por Palermo Soho é, aliás, obrigatório. Há
grafites e murais coloridos espalhados pelo bairro – tudo
muito instagramável. Além dos cafés e restaurantes, en-
contram-se pequenas e charmosas livrarias. É na mesma
região descolada que fica o ateliê de Mariana Dappiano.
Ela se formou na primeira turma de desenho de moda
da faculdade de Buenos Aires e desfila desde a primeira
semana de moda da Argentina. Agora, prepara-se para
desembarcar nos Estados Unidos com loja própria. Os
brasileiros procuram muito a marca atrás das roupas
coloridas e fluidas. “A proposta é diferente. Quem vem
aqui quer peças exclusivas, com cortes e estampas do
momento”, descreve. “Busca outro tipo de consumo. Foge
dos shoppings e torna o processo mais pessoal”, completa.
Buenos Aires continua sendo um destino queridinho,
mas cresceu, se desenvolveu e, sem perder a personalidade,
mostra novas facetas aos visitantes. Agrada tanto aos que
chegam ali pela primeira vez quanto aos que retornam para
experimentar mais e mais. Uma coisa, porém, não mudou.
E que bom! Na cidade, ainda se consomem 3 milhões de
deliciosos alfajores por dia. Agora ficou irresistível, né? Agradecimentos ao

en
te de Turismo do Governo da

cidade de Buenos Aires e ao hotel

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