Sabor Club - Edição 33 (2019-10)

(Antfer) #1

68 | Sabor. club [ ed. 33 ]


HÁ UM MOMENTO NA VIDA DO Fernando Oliveira, ainda menino, que
ele não consegue esquecer. Ao lado do avô, esperava a avó, uma portuguesa
baixinha e arretada, ir dormir, para pegar os queijos que maturavam e depois
escondiam na parte mais alta do armário (onde ela não alcançava) Aí, comia
vendo filmes de faroeste. Não é difícil entender porque, anos depois, num
daqueles momentos que a gente se perde na vida, ele largou a carreira de
educador, pegou o carro e partiu interior adentro, em busca de produtores de
queijo. Igualzinho como fazia com o Seu Antônio, quando era moleque.
Isso faz dez anos, quando teve uma sacada: como, na época, não era
permitido vender queijo de leite cru, fora do seu estado de fabricação, ele
levava a massa do laticínio para São Paulo e curava o que viria a ser queijo.
Aí podia vender.
Nascia ali A Queijaria, a primeira loja de queijos vivos do país, responsável
por introduzir a onda em torno do produto. Hoje, aliás, o lugar continua
vendendo os queijos garimpados no Brasil todo e, mais do que isso, se
transformou numa incubadora de novos produtores, num trabalho encantador.

Funciona assim: o Fernando vai descobrindo os produtores, a maioria na
base do boca a boca. Bate na porteira de cada um e mostra para quem o recebe
(muitos ficam ressabiados, tocam ele das propriedades) que o queijo simples,
quase cru, que fazem é vendido por um preço baixo demais. E que, sim, eles
são explorados pelos intermediários. Então mostra como um queijo maturado
pode valer quatro, cinco vezes mais em mercados muito mais justos.
Como maturar? Basicamente deixando o queijo viver, no que ele chama de
teoria do zoológico. Quando você deixa o queijo cru no ambiente no qual ele
foi feito, há uma competição entre fungos, bactérias e leveduras, para ver quem
vai comer mais por ali. Então, a mágica acontece.
A ideia é olhar a singularidade de cada produtor. E deixar que ele faça as
perguntas sobre quais são os meios para desenvolver o próprio caminho.
O processo vai acontecendo naturalmente, embora doloroso para quem está
acostumado a lidar apenas com aquele queijo amarelinho, embalado à vácuo.
Sabemos, o queijo vivo tem um aspecto (e um cheiro!) muito diferente.
O resultado, enfim, é o que faz com que, desde o momento em que ele
colocou o queijo Canastra na boca do povo, já tenhamos passado por três
ciclos do queijo vivo no Brasil.

Se o queijo não podia ser vendido cru, fora do seu estado, a saída
era maturar a massa no local onde ele seria comercializado

PA


  • Requeijão Marajoara
    CE

  • Coalho

  • Rosa do Sertão
    RN

  • Queijo de manteiga

  • Coalho
    PB

  • Dom Ariano

  • Dom Manelito
    PE

  • Galego

  • Requeijão
    Pernanbucando

  • Flor de mandacaru

  • Coalho
    MG

  • Serra do Salitre

  • Campo Redondo

  • Campo das Vertentes

  • Ovelha das Vertentes

  • Canastra

  • Araxá

  • Serro

  • Cerrado
    ES

  • Capixaba
    RJ

  • Moleson
    SP

  • Azulão do Bosque

  • Montês

  • Nata

  • Cuestra Reserva

  • Pioneiro

  • Crema

  • Primonato

  • Joaninha

  • Nova Era

  • Vale do Ribeira
    PR

  • Colonial
    SC

  • Colonial
    RS

  • Serrano

  • Coxilha da Tuna


Queijo de vaca
Queijo de cabra
Queijo de ovelha
Queijo de báfala

Do Brasil
Alguns dos queijos vivos
que fazemos por aqui. Hoje já
temos quase 300 tipos
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