Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
domingo, 15 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Reforma trabalhista

'Lula - Volume 1'.


Em 1998, depois da terceira derrota seguida para a
Presidência da República, isolou-se por semanas no
sítio do amigo José Graziano. Lula se dizia cansado das
querelas partidárias e tinha o apoio da então esposa,
Marisa, para se afastar da política. Quando a cúpula do
PT entendeu que Lula falava sério, uma metade se
animou a tentar ser o seu sucessor, enquanto a outra
fazia romaria para que mudasse de ideia. 'So volto se
for do meu jeito', ele afirmou. Foi.


Se Lula vencer neste ano e tomar posse -no Brasil de
2022, eleição e posse talvez não sejam mais processos
interligados-, terá 77 anos ao voltar ao Planalto. Será o
presidente mais velho a iniciar um mandato. Os cabelos
estão mais ralos e brancos, a voz mais rouca. Como um
jogador de futebol depois de longa inatividade, está
enferrujado. As declarações saem tortas, como chutes a
esmo para o gol.


Em abril, em uma frase de improviso sem que ninguém
fosse avisado, defendeu que o aborto deveria ser um
'direito de todo o mundo' e fosse tratado como política
de saúde, tema tabu para todo presi-denciável. Depois
recuou e se posicionou contra a prática.


Em 30 de abril, em ataque ao presidente Jair Bolsona-
ro, uma declaração sua deu a entender que policiais
não eram gente ('Ele [Bolsona-ro] não tem sentimento.
Ele não gosta de gente, ele gosta de policial'). No dia
seguinte, emato do i° de Maio, uma nova retratação.


No lançamento formal da sua pré-candidatura, no último
dia 7, Lula leu o discurso de 5.296 palavras, atitude ra-
ríssima em 40 anos de campanhas.


P


M essoas que conversam com Lula frequentemente o
acham hoje mais impaciente com os debates sem fim
que fazem parte do folclore petista.


Em encontros recentes, ele reclamou da rede de intrigas
que derrubou seu amigo Franklin Martins da


comunicação da campanha, das dificuldades do PT em
fechar acordos partidários em Minas e no Rio e dos
relatórios de monitoramento mostrando a vantagem dos
bolsonaris-tas nas redes sociais.

Lula tornou-se mais controlador, participando de
reuniões menores que antes eram relegadas a
assessores, como as que decidem as peças de
campanha de TV e a agenda de viagens. Em uma
campanha presidencial, isso é insustentável

Parte do problema é da nova postura centralizadora de
Lula, mas parte é do mundo político. Todos querem falar
com ele, e somente com ele, acreditando que nenhum
outro petista tem autoridade para fechar acordos. Hoje,
eles têm razão.

O ex-presidente decidiu não ter um coordenador do
programa de economia, impedindo o surgimento de um
candidato natural a ministro da Fazenda em um
eventual terceiro mandato. Quando bancos e empresas
convidam um representante do PT para palestrar, Lula
indica a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, o
senador Jacques Wagner, ex-ministros, como Guido
Mantega, ou ainda os deputados federais Alexandre
Padilha e Rui Falcão.

O ex-adversário e agora candidato a vice, Geraldo
Alckmin, será o interlocutor junto ao agronegócio. Ao
indicar tantos porta-vozes, Lula quer dizer que ninguém
realmente fala em seu nome.

Nas palestras para o mercado financeiro, a primeira
pergunta quase sempre é a mesma: 'Qual Lula está
voltando, o de 2003 ou o de 2007?' Na premissa dos
executivos da Faria Lima, existe um "Lula bom', que
montou um time fiscalista com Henrique Mei-relles,
Marcos Lisboa e Joaquim Levy no primeiro governo, e
um 'Lula mau', que deixou Guido Mantega e Dilma
Rousseff tocarem a política econômica intervencio-nista
a partir de 2007.

A pergunta soa anacrônica. O Lula de 2022 é diferente
dos anteriores não apenas porque as condições são
novas, mas especialmente porque o adversário é outro.
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