Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
domingo, 15 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Reforma trabalhista

JairBolsonaro é o primeiro político de raiz popular que
Lula enfrenta. Em 1989, Fernando Collor era um coronel
político disfarçado de caçador de marajás. De 1994 a
2014, os candidatos do PSDB (mesmo José Serra, filho
de feiran-tes) encarnavam o establishment, facilitando o
discurso 'nós contra eles' do marketing petista. Com
Bolsonaro, isso não funciona.


O presidente saiu de uma família de classe média baixa
no interior de São Paulo para subir de vida como oficial
do Exército. Existe uma nítida estratégia de Bolsonaro
em se mostrar como 'gente como a gente', recusando a
liturgia do cargo, vestindo camisetas pirateadas de
clube de futebol e chinelos na biblioteca do Palácio do
Alvorada. Uma definição comum nas pesquisas
qualitativas sobre o presidente é que ele 'é tosco, mas
autêntico'.


'Não vamos cair na disputa com a imagem do sujeito
que passa leite condensado no pão. O Bolsonaro não é
mais o candidato antissis-tema de 2018. Nosso debate
vai ser com o presidente que não comprou vacinas a
tempo, que colocou quase 120 milhões de pessoas sem
garantia de ter comida no prato', previu o deputado
Padilha.


Para muitos petistas, o retorno de2022 poaia ter vindo
antes. No primeiro semestre de 2014, havia maioria no
PT para substituir a candidatura da então presidente
Dilma Rousseff. Por duas vezes, Lula foi consultado
formalmente pelo partido se queria ser candidato.


Recusou, primeiro alegando que, como presidente no
cargo, Dilma tinha a primazia, como justificou no livro-
entre-vista 'A Verdade Vencerá'. Depois, em tom meio
sério, meio de blague, ele resumiu: 'Não quero ser um
Michael Sehu-macher', referindo-se ao heptacampeão
de Fórmula 1, que, ao retornar às pistas, não repetiu a
mesma performance dos anos de auge.


A candidatura de 2018 não valeu. Lula sabia que não te-
ria autorização para ser candidato e usou a campanha
como um escudo, sugestão vinda dois anos antes em
uma conversa com o amigo e ex-presidente francês


Nicolas Sarko-zy. Convencido de que a Lava Jato era
um processo político, não jurídico, Lula impôs ao STF e
ao TSE o constrangimento de impedir o líder nas
pesquisas de concorrer. 'Eles puseram o bode na sala.
Vão descobrir que esse bode vai feder e muito', repetia.

Fascinado pela vitória de Jaime Lerner à Prefeitura de
Curitiba em 1988, quando ele se lançou candidato
faltando 12 dias para o pleito, Lula intencionalmente
adiou a sua renúncia para favorecer Fernando Haddad,
formalmente seu vice na chapa em 2018. 'Quanto mais
perto do dia da eleição você assumir a candidatura,
maior será a emoção e a transferência de votos',
ensinava.

Haddad foi indicado candidato no último dia de prazo
legal, faltando 26 dias para o pleito. Foi para o segundo
turno, perdeu por quase 11 milhões de votos de
diferença, mas o PT elegeu 54 deputados e quatro
governadores.

Em uma conversa recente, Lula disse que, se tivesse
aceitado a sugestão de vários amigos de se exilar antes
da prisão, tanto a sua carreira quanto a do PT teriam
acabado.

Lula e o PT vivem numa simbiose. Na definição do
dentista político Andre Singer, no livro 'Os Sentidos do
Lulismo', os mandatos de 2003 a 2010 foram marcados
por um 'refor-mismo fraco', de forte ação estatal na
redução da desigualdade social, mas sem atritos com o
status quo.

A memória desses anos entre os mais pobres permitiu
ao PT sobreviver ao mensa-lão, à recessão de 2014-16
e à Lava Jato. Quando Lula foi preso, porém, foi ele que
precisou do PT. Os aliados de esquerda passaram a
articular como seria o pós-Lula. Os da direita
renegavam o passado.

A relação de Lula e o PT com a elite política e
empresarial se esgarçou no governo Dilma, período que
o marketing da campanha ainda não sabe como tratar.

O estremecimento de Lula com o establishment é tão
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