Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

Victor Kinjo - Mensagem de Ryukyu/Okinawa


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Victor Kinjo


Faz 50 anos, Okinawa foi devolvida ao Japão. A
província mais ao sul do país ficou sob administração
dos Estados Unidos por 27 anos, de 1945 à 1972,
quando, após protestos e negociações, voltou a integrar
o território japonês.


Até o final do século 19, Okinawa foi o reino
independente de Ryukyu, com língua, cultura e governo
próprios. Por sua localização estratégica, o arquipélago
foi um importante entreposto comercial entre China,
Japão, Coreia, Sudeste Asiático e Pacífico. Assim,
formou-se uma rica cultura artística e desmilitarizada
que inclui o sanshin, o Ryukyu Buyô, o eisá, o karatê, o
awamori e o champuru, prato típico que consiste numa
mistura de ingredientes (uma filosofia como a
antropofagia).


Talvez você nunca tenha ouvido falar dessas coisas
(com exceção do karatê), porque, se a Ásia já ocupa
poucas páginas nos livros de História e jornais
brasileiros, a existência de Ryukyu/Okinawa é quase
invisível. Em 1879, o Império Japonês invadiu e


extinguiu o reino, proibiu o comércio com a China e
passou a coibir o uso do uchinaaguchi (um dos idiomas
locais, por décadas chamado de dialeto, mas
recentemente reconhecido pela Unesco como língua em
perigo de desaparecimento). Era a língua materna dos
meus avós, que, como milhares de okinawanos,
imigraram para o Brasil na primeira metade do século
20.

A ideologia militar levou o Japão a invadir Ryukyu,
Taiwan, China, Coreia, Filipinas, Indonésia, Hong Kong,
Cingapura, entre várias outras ilhas no Pacífico,
matando mais de 6 milhões de pessoas.

Em 1945, uma sangrenta batalha entre Japão e Estados
Unidos ocorreu em território okinawano. Cerca de 1/4 da
população civil da ilha morreu vítima da guerra. Meses
depois, cairiam as bombas atômicas em Hiroshima e
Nagasaki, pondo um fim trágico à aventura militar
japonesa.

Mas, diferentemente do que aconteceu com Hitler e a
Alemanha nazista, o imperador Hirohito não foi julgado
por crimes de guerra e tornou-se o maior aliado dos
Estados Unidos no Extremo Oriente. Em troca, Okinawa
foi entregue para administração estadunidense. E, das
bases militares ali instaladas, fez-se as guerras da
Coreia, do Vietnã, entre outras.

Em 1969, quando se anunciou a possibilidade da
reversão (devolução), muitos okinawanos ficaram
esperançosos em recuperar as terras ocupadas pelo
exército. Mas o novo acordo Japão-Estados Unidos
manteve as instalações militares, que até hoje ocupam
quase 20% do território okinawano. Cerca de 75% das
bases militares norte-americanas no Japão concentram-
se em Okinawa e uma nova base, Henoko, está sendo
construída no norte da ilha, causando impactos sociais
e destruição ambiental.

Recentemente, foi descoberta na região da base de
Kadena, em mananciais que abastecem cerca de 450
mil pessoas, a contaminação das águas por ácido
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