Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

A decepção no setor de infraestrutura


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Um dos maiores problemas do Brasil é a produtividade
baixa - e ela tem relação óbvia com falta de
investimento em infraestrutura, como estradas,
saneamento, energia, telecomunicações, portos e
mobilidade urbana. Em 1980, um trabalhador americano
produzia, em média, o equivalente a três brasileiros ou
seis coreanos. Hoje o americano continua sendo mais
produtivo, mas é preciso contar com mais brasileiros
(cinco) e menos coreanos (dois).


Para acabar com esse desequilíbrio, o investimento em
infraestrutura é urgente. É verdade que também temos
de avançar em educação e acesso a capital, mas um
brasileiro com a mesma educação e quantidade de
recursos que um americano continuará produzindo
menos. O caminhão com insumos demorará mais a
chegar, o funcionário levará mais tempo entre a casa e
o trabalho, ficará mais cansado, terá mais problemas de
saúde.


Essa é mais uma área em que o governo de Jair
Bolsonaro decepcionou. Entre 2019 e 2021, o
investimento em infraestrutura no Brasil diminuiu na
comparação com o período entre 2016 e 2018. Em


valores médios anuais corrigidos pela inflação, saímos
de R$ 151, 1 bilhões (ou 1, 76%do PIB) para R$ 140, 4
bilhões (1, 73%), segundo dados publicados neste mês
pela consultoria Inter. B. É muito pouco perto da nossa
necessidade mínima para resgatar o crescimento: duas
décadas ininterruptas com investimento da ordem de 3,
64% do PIB.

Bolsonaro foi duplamente incapaz: não manteve o
volume de recursos públicos, tampouco permitiu atrair
mais capital privado. Muitos investidores estrangeiros
decidiram não pôr dinheiro aqui por causa da destruição
da reputação do país: devastação ambiental, ameaças a
indígenas, ministros delirantes, negacionismo na
pandemia e ataques à democracia. 'Uma frase muito
repetida é 'vamos aguardar'', afirma o economista
Claudio Frischtak, da Inter. B.

Ao aliar-se ao Centrão, Bolsonaro desistiu de
aperfeiçoar a governança na relação do Estado com as
empresas, um problema histórico. Promoveu um sem-
número de desatinos: dinheiro alocado sem
racionalidade técnica por meio das emendas do relator;
o jabuti das térmicas encarecendo a energia na lei de
privatização da Eletrobras; para completar, a discussão
na Câmara para barrar aumentos da conta de luze a
articulação para financiar com dinheiro público
gasodutos sem nenhuma lógica econômica.

Nem tudo deu errado. A aprovação do novo marco do
saneamento foi um dos avanços. A privatização da
Cedae e de aeroportos atraiu novos investidores,
apesar da lentidão nos novos leilões. Mas foi pouco
diante do que o país precisa. Mantido o ritmo atual de
investimento, o Brasil chegará a 2040 como a grande
economia mais distante do estágio ideal, segundo a
Global Infrastructure Hub, ligada ao G20.

Para os padrões internacionais, o setor privado tem no
Brasil uma participação alta nos investimentos em
infraestrutura (de dois terços). Mas não há outra saída
senão aumentá-la. A crise fiscal inviabiliza os
investimentos públicos. Sem atrair novos investidores, o
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