Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

O mau começo do ministro Sachsida


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e
Informações
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Começou mal o novo ministro de Minas e Energia,
Adolfo Sachsida, muito mais conhecido por seu
entusiasmo bolsonarista do que por sua competência
para a função recém-assumida. Seu primeiro ato,
segundo anunciou, seria pedir estudos para a
desestatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo
(PPSA), responsável pelos contratos de exploração das
jazidas oceânicas mais profundas. Não há como realizar
essas privatizações neste fim de mandato nem tem
sentido discuti-las agora. O pronunciamento de
Sachsida pode ter servido, por um breve momento, para
desviar a atenção da figura de seu chefe, um presidente
acuado num cenário de inflação desatada, juros muito
altos, inadimplência elevada e amplo desarranjo da
produção e do emprego.


Sachsida substituiu um ministro, o almirante Bento
Albuquerque, afastado por Bolsonaro depois de mais
uma alta do preço do diesel. Sem ter conseguido
submeter a Petrobras a seus objetivos políticos, o
presidente optou por eliminar o ministro responsável
pela área energética. Na melhor hipótese, do ponto de
vista presidencial, esse ato serviria para marcar o
demitido como culpado pelo encarecimento do


combustível. O almirante seria convertido em bode
expiatório - expressão usada por vários comentaristas.
Mas como disfarçar a inflação de 1, 06% em abril, a
mais alta para o mês em 26 anos, e a taxa de 12, 13%
acumulada em 12 meses?

Em nenhum momento o novo ministro cuidou
diretamente, em seu discurso inicial, dos preços dos
combustíveis ou da inflação. Sua crítica a 'medidas
pontuais', de impacto às vezes 'oposto ao desejado',
poderia ser interpretada como recusa das tentativas
improvisadas de conter os aumentos nas bombas. Mas
seria difícil imaginá-lo criticando o presidente. Sachsida
mostrou-se um entusiasmado bolsonarista desde antes
da eleição, em 2018, e participou, depois, de
manifestações a favor do presidente.

Sem discutir as funções, os objetivos e problemas do
Ministério de Minas e Energia, Sachsida dedicou boa
parte de seu pronunciamento a questões de política
econômica. Comentando as tendências do investidor
internacional, falou sobre a importância de apresentar o
Brasil como um porto seguro para a aplicação de
capitais. Alongou essas observações, mas sem dizer se
o País já tem essa imagem ou como se poderia
consolidá-la.

Não explicou, por exemplo, como poderá ser visto como
'porto seguro' um país no qual as instituições
democráticas são ameaçadas pelo presidente da
República. Não mostrou a segurança de uma economia
onde se adota um orçamento secreto, as normas fiscais
são com frequência atropeladas e a política econômica
é decidida de improviso, no dia a dia, sem planejamento
e sem rumo. Não indicou por que se deve confiar num
mercado com ampla

instabilidade cambial, resultante principalmente da
insegurança causada pelos desmandos presidenciais.
Além disso, como desconhecer essa instabilidade, se a
frequente fuga dos investidores já é um forte sinal de
insegurança?
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