14 | Sabor. club [ ed. 33 ]
Numa conversa muito agradável, ele
revelou a história toda. D. Odeila
Botelho, a avó, era cozinheira de
mão cheia e tinha uma pensão na
qual fazia uma comida famosa em
Beagá, além de assados e bolos
de casamento, que vendia para
fora. D.Odeila preparava também
um pão de queijo tão bom que
empanturrava a família,
antes mesmo dos almoços
de domingo, “porque-
ninguém- conseguia-
parar-de comer”.
A turma também
se tomava jarras e
mais jarras da cerveja
que a senhora fazia,
a partir das figuras de
um livro em inglês que
ela aprendeu a interpretar.
O estilo? “Ah, algo próximo
de uma american lager, só que
mais escura, mais forte e com mais
sabor.” Feita apenas com malte e extrato
de lúpulo, usados nos trabalhos para certas
entidades da religião africana.
Todas as experiências da D. Odeila foram
parar numa apostila que a família resgatou,
depois da morte dela. E, claro, caíram nas mãos
do Claudio, mais por uma lembrança carinhosa
da avó, do que como guia de receitas para
alguma coisa. Até porque, embora sempre fosse
um grande tomador de cervejas, só entrou na
cozinha para fazer as suas há dois anos, quando
herdou a tralha de um amigo cervejeiro que
precisou abandonar o hobbie.
Aí, sim, a experiência de boca,
adquirida num longo período na
Europa, entrou em cena. “Como todo
bom mineiro de Belo Horizonte,
eu sempre tomei muita cerveja
por aqui. Cheguei lá, fiquei louco
com a variedade de estilos e a
qualidade dos rótulos.” De
volta, criou os primeiros
beer truck bloco de
Carnaval cervejeiro
da sua cidade.
É essa paixão que,
diz, fez a diferença
ao criar a Session IPA
vencedora. Com o
tempo, Claudio virou
um fera em análise
sensorial, que ele compara
com a habilidade dos bons
cozinheiros – aliás, como a
D. Odeila: “Sei lá, do nada, a gente
acaba tendo um insight para usar um
temperinho aqui, outro ali. Foi isso o que me
fez usar o lúpulo alemão, mesmo sem provar ou
fazer testes previamente”.
O resultado, afinal, é uma Session para
tomar aos baldes. Para a festa que anunciou
o vencedor deste ano, o pessoal do ICB –
Instituto de Cerveja Brasil (uma das principais
escolas cervejeiras do país) produziu, sem
interferências, 3 mil litros da receita do
Claudio. Não sobrou uma gota.
Fácil de beber
A sommelier Bia Amorim
conta que cerveja é essa
“Ela é uma session Ipa de cor cobre claro
e bastante límpida. Revela aromas frescos
de lúpulos e notas frutadas e cítricas,
além de ótima formação de espuma.
O protagonismo do lúpulo não é marcado
por amargor, o que deixa a cerveja com
corpo leve e alto drinkability, realçado
por um toque de dulçor do malte.
A harmonia também está na baixa
graduação alcoólica, trazendo
bastante balanço para
a receita.
4 | Sabor.club [ ed. 3 3 ]
Cerveja
especial
para todos
Boa ideia equipara o
preço dos estilos em
Belo Horizonte
A capital mineira é
conhecida como
a Bélgica sul-
americana, de tanto
que se faz cerveja
por ali. Além do polo
cervejeiro da cidade,
que reúne várias
pequenas cervejarias
num único lugar,
há várias outras
espalhadas por todo
canto. Ainda assim,
a procura por estilos
além de lagers e
pilsens segue num
crescimento lento.
Para mudar isso,
o bar Juramento
colocou todas
cervejas nas suas
inúmeras torneiras
a R$ 10 a tulipa.
A ideia é fazer o
povo provar, uma
vez que os estilos
desconhecidos, além
de tudo, costumam
custar mais caro.
3SǰREPEGSRXE
fecha pelo volume
vendido e porque
não sobra “cerveja
desconhecida” nos
barris. E, aí, bares
cervejeiros: vamos
adotar a ideia?
O cervejeiro
mineiro
Claudio
Botelho e a
sua Session
IPA, que chega
em edição
limitada,
produzida pela
Eisenbahn