Sabor Club - Edição 33 (2019-10)

(Antfer) #1

26 | Sabor. club [ ed. 33 ]


A FAMÍLIA DA FERNANDA PAMPLONA, uma das responsáveis pela aglomeração
de gente que se reúne num cantinho fofo do movimentado bairro de Pinheiros,
em São Paulo, tem um quase ritual que começa todos os sábados, às cinco da
manhã. Ela, o marido Mario e as filhas Clarissa, 16, e Aurora, 4, pulam da cama
para ir à feira de orgânicos do Parque do Ibirapuera. Lá, tomam suco verde e depois
conversam com os produtores do cinturão agrícola em torno da capital, em busca
dos melhores ingredientes, com os quais são feitos os gelatos da Albero dei Gelati,
a filial paulista de uma das gelaterias mais faladas da Itália, em Milão.
O esforço garante que a produção seja quase toda realizada a partir do conceito
do km 0, aquele no qual a matéria-prima percorre a menor distância possível, entre
o produtor e o consumidor. Fernanda, uma pessoa de fala suave e astral mais leve
ainda, explica o trabalho com o maior orgulho, apesar de uma certa timidez.
Antes de fazer gelato, ela trabalhou com agricultura, num projeto da Prefeitura
de São Paulo. Ali, diz, nasceu o amor pelo produtor e pelo campo. Mais do que isso,
lhe deu a oportunidade de fazer amigos agrônomos que a ajudam a encontrar os
agricultores que trabalham de forma orgânica e sustentável.

Quando foi para a Itália, em busca de qualidade de vida e “de mais tempo
para conhecer as filhas”, pensou em juntar a experiência agrícola com a produção de
gelatos. Encontrou tudo o que queria ao descobrir o trabalho da família Solighetto,
famosa desde 1985, por fazer um produto natural, fresco, saboroso e artesanal.
Então, quis se aproximar para, quem sabe, trazer os gelatos deles aqui, quando
voltasse para o Brasil.
A Albero dei Gelati, no entanto, é um negócio absolutamente familiar e os donos
nem sequer cogitam entregar a produção na mão de estranhos. Para se ter uma ideia,
quando surgiu a oportunidade de abrir uma loja em Nova York, a Monia Solighetto
e o marido dela, o Alessandro Trezza, foram morar lá para tocar a empreitada.
Diante da montanha, Fernanda resolveu escalá-la pelas beiradas, a receita de
sucesso de quem quer chegar ao topo. Conseguiu uma vaga de balconista na loja de
Milão e, aos pouquinhos, foi conquistando a simpatia e a confiança dos italianos.
Até que apresentou produtos brasileiros para eles. Então quebrou o gelo e ganhou o
coração da turma. A semente para o nascimento da árvore (albero em italiano) estava
plantada. Até que o Fabio, que toca as lojas na Bota, veio para cá com
eles abrir a primeira loja.

A ideia de fazer o chamado “gelato agrícola”
nasceu “do amor pelo produtor e pelo campo”

Copinho
comestível
Ele é feito de polvilho
e se desfaz mesmo que
não seja consumido

A Fernanda procurava
embalagens para os
seus gelatos, quando
encontrou a Oca,
que produz o
material comestível.
O projeto ainda estava
engatinhando, quando
insistiu no uso do corante
natural e começou os
testes para acertar o
diâmetro do copinho. Isto
porque em 20 minutos o
fundo se desprende em
contato com o gelato.
Mas como ninguém leva
esse tempo todo para
consumir o sorvete, até
hoje não teve problema.
A ideia é não gerar lixo
mesmo. O que sobra vai
para composteira
e some em horas..
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