National Geographic - Portugal - Edição 223 (2019-10)

(Antfer) #1

28 NATIONALGEOGRAPHIC


Regiões inteiras foram abandonadas, talvez
não devido a mortes epidémicas, como alguns
investigadores propõem, mas porque as pessoas
perderam os seus meios de sobrevivência.
As Guerras da Gália terminaram com a derrota
militar dos celtas. No entanto, eles não tardaram
a ser integrados na vida romana e não foi difícil
para os romanos integrar os celtas. Os membros
da elite celta prosperaram particularmente nesta
nova era, a avaliar pelas suas sepulturas. “Por que
haveriam de ser inimigos dos novos governan-
tes?”, pergunta Sabine Hornung. As classes mais
altas teriam influenciado o resto da população.
Os arqueólogos imaginam que a viragem para
a cultura galo-romana se fez à custa do modo
de vida celta, mas essa transição foi gradual.
Os romanos trataram de tudo com habilidade.
“Permitiram que muitas cidades celtas manti-
vessem uma administração própria. Também os
deixaram conservar os seus locais e objectos sa-
grados e autorizaram a realização de assembleias
de líderes tribais, mas as decisões finais eram
suas”, diz o arqueólogo especialista no Império
Romano Günther Moosbauer, morador na cida-
de bávara de Straubing. No âmbito da sua estra-
tégia, “criaram fóruns, mercados que vendiam
produtos romanos como tecidos, lamparinas e
vinho. Dessa forma, conseguiram convencer os
celtas das vantagens do estilo de vida romano”.


COM BASE NOS SEUS ACHADOS, os investigadores
podem agora descrever com maior exactidão a
maneira como os celtas viviam, as suas realiza-
ções e a forma como desapareceram. Apesar
disso, muitas questões sobre esta cultura ances-
tral permanecem em aberto. Há hipóteses que
aguardam confirmação. Seria o Alte Burg uma
arena de circo celta primitiva e Le Mormont um
campo de refugiados? Maquinaria pesada está a
escavar a montanha de calcário no sítio suíço
onde há poucos anos os arqueólogos descobriram
ossos e peças de cerâmica.
No caminho de regresso, descendo o cume
de Mormont, Gilbert Kaenel, o investigador dos
celtas residente em Lausanne, conduz ao longo
de uma estrada estreita na encosta posterior do
monte. À sua frente, a cordilheira do Jura ergue-
-se sob o sol brilhante. Dentes-de-leão flores-
cem nos prados. Bosques dispersos avistam-se
aqui e além. O ambiente é sereno. O arqueólogo
olha para a esquerda e para a direita, mostrando
um sorriso travesso: “Quem sabe o que mais se
esconde aqui?”. j

Free download pdf