Elle - Portugal - Edição 374 (2019-11)

(Antfer) #1
ELLE PT 67

Estás a referir ‑te à tua avó que era dama de companhia da
princesa Margaret e que tinha um carácter vincado e era
uma personagem e tanto?
Sim, a mãe da minha mãe. Pensando nisso, fui sempre a
pessoa menos fashion da minha família.
Sei que Joan Collins é a tua madrinha. Quando eras criança,
sabias que ela era aquela figura cultural e fabulosa?
Ela conheceu o meu pai e a minha mãe separadamente.
Na altura, eram bons amigos. Eu nem sequer sabia o que era
ser fabuloso. Penso que ir de férias para o sul de França [nas
férias de família] parecia muito glamoroso, e era obviamente.
E a Joan fazia parte disso.
Que tipo de estudante eras?
Queria ir para a escola de teatro, mas acabei por ir para uma
escola de arte. Estava gravemente deprimida e sabia que não
ia dar ‑me bem na escola. Lutei muito [naquele momento]
para ultrapassar a minha depressão.
E pensaste que o mundo da moda poderia ser uma boa
aposta para uma pessoa deprimida?
Como não sabia nada de moda, não me parecia um mundo
intimidante. Pensei que seria como o Zoolander ou como
O Diabo Veste Prada. Claro que ninguém foge da depressão,
e esses sentimentos voltavam casualmente. Mas, no início,
a moda parecia um mundo algo ridículo.
Fizeste amigos depressa. Do teu grupo faziam parte Georgia
[May Jagger], Kendall [Jenner] e Jourdan [Dunn]. Penso que
o truque para sobreviver neste negócio é encontrar amigos
verdadeiros, não apenas amigos da moda.
Lembro ‑me de que a Georgia, que já estava a ser perseguida
pelos paparazzi, me dizia: “Cara, não podes sair de uma
discoteca com os teus sapatos de salto na mão. Tens de estar
sempre apresentável; as pessoas vão tirar fotografias!” E eu
pensava: “Não. Ninguém vai querer fotografar ‑me, isso é
ridículo.” Em menos de um ano, fotografavam ‑me em todo
o lado e apanharam ‑me com os sapatos nas mãos. A Georgia
dizia: “Cara, eu avisei‑te!”
Foi fácil fazer amigos?
Honestamente, tinha expectativas muito baixas de fazer
amigos nesta indústria porque: a) nunca pensei que as pessoas
quisessem ser minhas amigas e b) não sabia se fazer amigos
durante este processo seria inconstante ou pareceria irreal.
Portanto, fui agradavelmente surpreendida. A Jourdan e
a Karlie [Kloss] já eram amigas, mas não conheci logo a
Kendall. Fiz alguns desfiles com ela, mas não dirigíamos
uma única palavra uma à outra. Casualmente, começámos a
falar e disse ‑lhe qualquer coisa como “Oh, tu és fixe. Devía‑
mos sair quando isto acabar.” E ela disse: “Bora.” Foi muito
fácil. Descobri que sabemos naturalmente quando alguém
está a fazer um esforço que não é verdadeiro e quando uma
amizade parece artificial.

o nove horas da noite de uma quinta ‑feira
Cara Delevingne não quer sair. Marcamos
m jantar no restaurante chique do lobby
o seu hotel em Paris, mas quando chego,
uma mensagem para subir ao seu quarto.
Quando entro, encontro ‑a de pijama (melhor, com uma
t ‑shirt velha e umas leggings pretas), aconchegada entre as
cobertas da cama. Um grande contraste com a pessoa que
vi uma hora e meia antes, no Grande Palais, envergando
um vestido cor ‑de ‑rosa Chanel, no momento em que disse
o adeus definitivo a uma das figuras mais importantes da
sua vida: o designer Karl Lagerfeld. Na cerimónia fúnebre,
ela leu um poema sobre gatos da escritora francesa Colette



  • um tributo à amada companheira de Lagerfeld, a gata
    Choupette. Cara não se intimidou quando a ela se juntaram
    Pharrell Williams, Tilda Swinton e Helen Mirren, mas a
    emoção de dizer adeus a um dos seus heróis foi forte. «O que
    me pôs realmente triste foi, no final do desfile, procurá‑lo
    para lhe dizer que tinha sido um “grande espetáculo!” e ter
    percebido: “Oh não, ele não está cá”», diz.
    A modelo de 27 anos, rosto da Dior Beauty e atriz, tem
    feito a sua carreira como a rapariga engraçada e sorridente da
    porta ao lado, mas eu conheço ‑a há tempo suficiente (desde
    que ela era uma adolescente rebelde) para reconhecer que, sob
    o seu exterior extrovertido e sempre ativo, está uma miúda
    que também pode ser arrebatada pela emoção. Olhei para os
    olhos escuros debaixo do edredão e soube que tinha de ligar
    para o concièrge para cancelar o jantar. Fechei as cortinas,
    deitei ‑me ao lado dela e fiz a entrevista entre as almofadas.


Derek Blasberg: Conheci ‑te quando tinhas cerca de 16 anos
e gostavas mais de pizza do que de moda. A ideia de fazeres
carreira na moda surpreendeu a tua família, não foi?
Cara Delevingne: Continuo a não ser uma fashionista. Em
comparação comigo, qualquer pessoa é mais fashion do
que eu. Penso que a minha família é mais fashion do que a
maioria. O meu pai [Charles, um promotor imobiliário] é
uma pessoa elegante, embora goste muito de estar nu, e a
minha mãe [Pandora] também é elegante – é uma espécie
de acumuladora. A minha avó também tinha muita roupa.


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