Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-24)

(Antfer) #1

Joel Pinheiro da Fonseca - A democracia depende de Lula?


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Política
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Joel Pinheiro da Fonseca


Coma desistência de João Doria, as opções vão se
afunilando. Não é um bom momento para ser de
'terceira via'. Ridicularizados por todos os lados,
apoiadores de candidatos sem voto. O único motivo
para continuar nesse campo é a crença num Brasil
melhor. E, mesmo assim, não falta quem tente nos
assediar a optar por um dos dois líderes das pesquisas.


Vozes imperativas vêm do lado petista, decretando que
esta eleição é um plebiscito sobre a democracia. 'Quem
não votar em Lula já no primeiro turno não liga para a
democracia'. E não são só militantes do PT ecoando
esse discurso. Há pessoas de centro e até liberais.


O argumento dos que defendem voto em Lula 'pela
democracia' é o seguinte: Bolsonaro é um autoritário
disposto a dar um golpe se perder. Lula é o favorito para
vencer nas urnas. No entanto, se essa vitória se der em
segundo turno, aumentam as chances de Bolsonaro
conseguir arregimentar sua base e as Forças Armadas
para dar o golpe.


Se Lula vencer já no primeiro turno, dizem, Bolsonaro
teria de contestar o resultado das mesmas urnas que
elegeram os deputados e senadores. Estes, por sua
vez, não em bar cariam na narrativa golpista, pois ela
colocaria seus mandatos em dúvida.

Essa tese tem um pequeno probleminha: considera
impossível uma conduta que Bolsonaro e seus aliados
já têm cotidianamente. Desde março de 2020,
Bolsonaro diz, abertamente, que o primeiro tur nodas
eleições de 2018, que ele venceu, foi fraudado. E os
deputados de sua base concordam com ele.

Pela lógica, desacreditar as eleições que os elegeram
deveria desacreditar também a legitimidade de seus
mandatos. Mas quem disse que a lógica importa nesse
caso? Toda a narrativa contra as urnas brasileiras é
baseada em mentiras descaradas e carece de qualquer
lógica. Ela não é feita para ser levada a sério; é só um
pretexto usado para descredibilizar as eleições, que
vale enquanto for conveniente

e será descartado se não for.

Há que se considerar, ademais, o realismo desse
possível golpe. As bravatas de Bolsonaro -buscando
minar a credibilidade das urnas- são graves por si só.
Mas não constituem uma ameaça real e iminente à
democracia. Está claro que, caso perca, ele estimulará
uma arruaça geral. É algo seríssimo, que pode inclusive
resultar em mortes (como ocorreu nos EUA), mas que
está longe de ser um golpe de Estado bem-sucedido.

Para um golpe, seria preciso a participação das Forças
Ar madas. E se os generais e tropas brasileiros
realmente quiserem contrariar o resultado das urnas,
não é o dia do mês que mudará seu propósito e nem
faltariam desculpas fajutas para justificá-lo.

Com eles estariam todos os deputados que esperam
sugar mais um pouquinho de recursos da República
com Bolsonaro na presidência, e também as massas
fanatizadas pelo discurso do Mito, sem nenhuma
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