MERVAL PEREIRA - Rumo ao precipício
Banco Central do BrasilJornal O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAutor: MERVAL PEREIRA
O ex-governador de São Paulo João Doria tomou uma
atitude que já estava madura ao renunciar à candidatura
à Presidência da República, mas deveria ter se
antecipado à cúpula do PSDB, que agora está às voltas
com a pressão interna para que o partido tenha um
candidato próprio. Não se trata mais de disputara
Presidência com Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes. Trata-se,
isso sim, de tentar salvar a própria sigla do desastre
anunciado.
Os tucanos, que governaram o país por oito anos e
estiveram no segundo turno em todas as eleições,
exceto as de 2018, foram devastados pelo fenômeno
eleitoral chamado Bolsonaro e não souberam reagir a
esse ataque hostil. A saída de Geraldo Alckmim do
partido que ajudou a fundar só fortaleceu a percepção
dos eleitores que trocaram o PSDB por Bolsonaro de
que a social-Democracia tucana tem mais a ver com o
petismo do que com o liberalismo que eles buscaram
nesses anos todos em que a sigla era a única
alternativa viável ao PT. Assim como a adesão do ex-
juiz Sergio Moro ao governo Bolsonaro reforçou a tese
petista de que Moro condenou Lula para facilitar a
vitória de Bolsonaro.Os eleitores do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste que
abandonaram Alckmin em 2018 para aderir a Bolsonaro
não encontraram motivos para voltar ao ninho tucano,
pois o partido, além de criticar e atacar o presidente
eleito, teria de ter apresentado uma proposta de
governo que atendesse a esse eleitorado, que quer
derrotar o PT porque considera Lula e seus camaradas
socialistas enrustidos que usam a democracia para
destruí-la.Não se importam exatamente com a democracia, já que
Bolsonaro pode ser tudo, menos democrata. Querem é
manter no poder um esquema político que garanta os
incentivos à agricultura e à pecuária e que afaste a
ameaça da ação de movimentos como MST e MTST
nas áreas urbanas. A política ambiental, um dos pontos
nevrálgicos da imagem do país no exterior e uma
necessidade interna com repercussão no futuro da
nossa economia, é tema delicado, que deveria ter sido
tratado pelo PSDB como projeto de desenvolvimento
futuro, não de retrocesso, tendo a agricultura e a
pecuária como elementos fundamentais dentro de uma
visão de desenvolvimento sustentável.Mas o PSDB perdeu a capacidade de se antecipar aos
acontecimentos, essencial para sua fundação. Nasceu
de uma dissidência do MDB para modernizar a visão
política do país contra o conservadorismo e a corrupção
de um partido que já não tinha mais políticos do quilate
de Ulysses Guimarães no controle, mas do tipo de
Orestes Quércia.Agora, como ressalta Marcus Pestana, fundador do
PSDB e candidato ao governo de Minas Gerais, os
tucanos propõem a união com o mesmo MDB, sem
seus grandes nomes, com a perspectiva de uma futura
fusão entre os partidos. Seria o retorno, mais de 30
anos depois, à mesma situação rejeitada por seus
fundadores.