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Jornal O Globo/Nacional - Saúde
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Margareth Dalcolmo
Há muito está sedimentado o conhecimento de que,
para viroses agudas, e sobretudo para as de
transmissão respiratória, a grande solução está nas
vacinas e não em tratamentos medicamentosos, pelo
menos nos períodos agudos de epidemia. E esperado
que remédios de uso oportuno, nos primeiros dias de
doença, surjam, como ocorreu com o oseltamivir na
gripe HIN1 e ora se dá com a aprovação dos antivirais,
anticorpos monoclonais e imunomoduladores na Covid-
19.
O exemplo atual corrobora esse fato, com o impacto já
indiscutível, e mensurável, que a cobertura vacinal
completa, a exemplo do Brasil, resulta numa redução
substantiva do número de hospitalizações e de mortes
devidas à doença. Em que pese os atrasos havidos e as
adversidades que precisamos superar para dar um ritmo
adequado à vacinação da população adulta, estamos
aquém do desejável na cobertura das doses de reforço,
e inaceitavelmente baixos em cobertura da população
infantil. Nessa faixa etária não resta dúvida do papel
nocivo que cumpriram as informações falsas veiculadas
sobre efeitos adversos das vacinas, influenciando
negativamente pais e famílias, sobretudo os mais
carentes. Isso viola, sobretudo nas crianças, a cultura
de confiança tradicional dos brasileiros em relação às
vacinas, e nos preocupa, no momento em que
verificamos diminuição de coberturas em todas as
vacinas do calendário do PNI, até da BCG (para
prevenção da tuberculose) que é aplicada nas
maternidades a todo recém-nascido.
Entre os diversos impactos mensuráveis do processo de
vacinação e das medidas não farmacológicas de
contenção implementadas está, de modo curioso
inclusive, o de controle do tráfego aéreo no planeta,
setor que sabemos foi reduzido ao mínimo nos
primeiros meses da pandemia. Observa-se um aumento
no número de voos globalmente em 6% considerando
um dia (21 de maio), quando em 2019 haviam sido
realizados 190. 720 voos, e na mesma data em 2020
- 968 (menos 93%). Em 2021 houve 166. 480 voos e
2022 202. 573, com esses aumentos registrados pela
fonte do Flightradar24 e com gráficos analisados pelo
epidemiologista brasileiro Wanderson Oliveira. O que
esse fato representa? À avidez da retomada de
negócios e da mobilidade social compensatória após
esse longo tempo de distanciamento entre pessoas
físicas e jurídicas, e uma sede de reencontros adiados,
recompondo liames afetivos. Possivelmente a soma de
todas os fatores.
No Brasil se decretou em abril o fim do estado de
emergência sanitária iniciado em início de março de
2020 após esses quase dois anos e meio, com prazo
para entrar em vigor de um mês, sem que, entretanto,
esteja claro como serão gerenciadas as medidas
administrativas e regras para aquisição de insumos,
manutenção de emergência de equipamentos e até
contratação de recursos humanos. A retórica que
justifica a medida de caráter gerencial é a 'capacidade
de resposta do SUS, a melhora no cenário
epidemiológico e o avanço da vacinação'. Ora, sabemos
tristemente que a vacinação estagnou e que
precisamos, com urgência, de campanhas de