Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-24)

(Antfer) #1

EDU LYRA - Sem saudade da maloca


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: EDU LYRA


Se o senhor não tá lembrado, a demolição de malocas
traz a marca da injustiça social. Adoniran Barbosa
captou toda a tragédia da situação ao contar o caso de
três amigos que, impotentes, apenas apreciavam a face
mais cruel da especulação imobiliária diante do
desmonte do lugar onde viviam. Que tristeza que eu
sentia/Cada tauba que caía doía no coração.


Essa é uma cena que, num futuro que já aponta no
horizonte, terá espaço apenas num Museu da Pobreza.
Sim, porque a realidade identificada pela sensibilidade
do cronista já está sendo transformada. Na favela
Marte, em São José do Rio Preto (SP), muita 'tauba' vai
cair a partir do próximo mês -e os moradores, hoje
cheios de esperança, estarão felizes.


Como assim? Bem, dá licença de contar.


Num trabalho inédito - feito de dentro para fora e de
baixo para cima -, uma rede de colaboradores deu um
passo importante para mudar essa história. Lá, o projeto
Favela 3D (digna, digital e desenvolvida) entra em fase


crucial: a reurbanização total do território. Até a metade
do ano, as 240 famílias do local serão abrigadas em
imóveis alugados, abrindo caminho para a demolição da
favela e a construção de um novo bairro a partir do zero.

O projeto das novas moradias foi escolhido em parceria
com os próprios moradores, de acordo com suas
preferências e necessidades. Além da infraestrutura, a
Marte reurbanizada contará com quadras, espaços de
lazer, centros culturais, uma Praça da Cidadania e até
um Museu da Pobreza, dedicado ao registro da
transformação da favela. O caráter único do projeto já
despertou o interesse de pesquisadores na USP e na
Universidade Fudan, em Xangai (China).

Conduzidas pela Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU),
as obras devem durar cerca de um ano e meio. O custo
total do projeto será repartido entre o governo paulista
(50%); a prefeitura de São José do Rio Preto (25%),
responsável pelas obras de infraestrutura; e a Gerando
Falcões (25%). As famílias pagarão a fundo perdido
prestações equivalentes a 20% de sua renda,
independentemente do tamanho dessa renda, em troca
da titularidade das casas.

Um projeto dessa envergadura só pôde decolar graças
a um imenso trabalho de equipe nos bastidores.
Contamos com as lideranças locais, como Benvindo
Nery, presidente da Associação de Moradores, e
Amanda Oliveira, CEO do Instituto As Valquírias.
Envolveram-se também o ex-governador João Doria, o
governador Rodrigo Garcia e o prefeito de São José do
Rio Preto, Edinho Araújo. Centenas de outros
profissionais se engajaram na empreitada, de arquitetos
aos técnicos das secretarias de Habitação estadual e
municipal, que agilizaram o licenciamento das obras;
das empresas parceiras aos juízes e promotores que
facilitaram a regularização fundiária, possibilitando que
os moradores recebam a escritura de seus imóveis.

É a sinergia entre esses atores que viabiliza o sonho da
Favela 3D. A revolução serve de modelo para iniciativas
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