Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-24)

(Antfer) #1

CARLOS EDUARDO MANSUR - O verdadeiro êxito


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Esportes
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: CARLOS EDUARDO MANSUR


Foram meses consumidos por uma brutal disputa ponto
a ponto entre os dois melhores times do mundo.
Guardiola redefiniu os padrões ao fazer das ligas
nacionais uma busca pela perfeição em bases
semanais, exigindo de quem quisesse derrota-lo algo
como 90 ou até 100 pontos. Na Inglaterra, encontrou em
Jürgen Klopp o maior rival de sua carreira, e juntos
transformaram a Premier League numa corrida em que
se lamenta cada empate. Apenas um ponto os separou
ao fim de 38 rodadas, nove meses e um domingo
marcado por uma virada memorável. Em 13 temporadas
como técnico, Guardiola ganhou dez ligas.


Disputas assim fazem mais do que produzir memórias.
São um convite a pensar sobre como separamos
vencedores e vencidos, o que por vezes nos conduz a
uma noção distorcida de sucesso e fracasso. Em
especial na elite de um esporte em que as margens são
tão pequenas como é o futebol.


Vejamos o Liverpool. Até Gündogan marcar o gol da
virada do Manchester City sobre o Aston Villa, a dez


minutos do fim do campeonato, o time de Klopp tinha ao
seu alcance algo inédito: ganhar as duas copas
inglesas, a Premier League e a Ligados Campeões. Não
é possível para um clube fazer algo maior.

Mas o campeonato inglês escapou por um único ponto
após 38 jornadas. Não será nada anormal ou
desabonador perder uma final de Champions para um
acumulador compulsivo de taças europeias como o Real
Madrid. E as duas copas inglesas ganhas na
temporada, diga-se, foram vencidas nos pênaltis. Ou
seja, o que deveria saltar aos olhos é a compreensão de
como a fronteira entre a glória quádrupla e uma
temporada de mãos vazias pode ser frágil. Duas
decisões por pênaltis, um ponto numa liga de nove
meses, 90 minutos de uma final contra o clube mais
vitorioso da história.

Será razoável, caso o esquadrão de Klopp não ganhe
em Paris no próximo sábado, esquecer tudo o que se
disse sobre o Liverpool ao longo da caminhada? A
temporada deixará de ser brilhante? O caso é que, em
geral, confundimos frustração com fracasso.

Era o que fazia o Manchester City lidar com a rodada
final da Premier League sob uma pressão sufocante.
Foram meses em que o mundo reconheceu na equipe
de Guardiola, mais uma vez, o melhor futebol do
mundo. Ou, ao menos, uma das duas ou três melhores.
Mas após dominar claramente um gigante como o Real
Madrid por quase dois jogos inteiros, a vaga na final
europeia escapou num lapso de cinco minutos.
Faltavam dez minutos para o fim da temporada quando
um gol evitou que a Premier League também
escapasse. Não fosse por este gol, as sensações
despertadas durante um ano inteiro seriam
relativizadas. Vale para os dois grandes times do
mundo, mas também para nosso futebol local. Com
frequência, impomos parâmetros cruéis para times e
treinadores.

Guardiola revolucionou o jogo, reformou os parâmetros
do 'jogar bem' numa mistura de controle, sistematização
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