CAFÉ SEM AÇÚCAR - A Copa do Mundo e o poder desperdiçado do
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Revista Meio & Mensagem (2)/Nacional - Opinião
segunda-feira, 23 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: GABRIELA RODRIGUES
Em menos de 200 dias, assistiremos à volta da Copa do
Mundo. O problema é que ela acontecerá no Catar, um
dos 70 países onde é crime ser LGBTQIA+, onde eu,
uma mulher abertamente lésbica e andrógina, poderia
ser punida com pena de morte apenas por ser quem
sou. Eu jamais arriscaria ir para essa Copa. Mas, se
estou escrevendo esse texto no Meio & Mensagem, não
é sobre a minha presença nos jogos que quero
conversar com você. É sobre a presença das marcas.
Começando pelo começo: como estamos falando de um
evento internacional, o Catar, obviamente, vem sendo
pressionado desde o início para responder como
receberá o público e os jogadores LGBTQIA+ durante o
evento. A pressão já veio do ativismo, do jornalismo e
até da própria Fifa. Mas, a verdade é que, até agora,
não foi divulgada nenhuma resposta realmente
tranquilizadora.
Hassan Al Thawadi, secretário-geral do Comitê para
Execução e Legado do Mundial de 2022, por exemplo,
comentou que, no Catar, as "exibições públicas de
afeto, seja entre homem e mulher ou de outros casais,
não fazem parte da nossa cultura, e pedimos que as
pessoas respeitem isso. Não mostrem isso em público".
"Não mostrem isso em público" pode parecer uma frase
aceitável para algumas pessoas, ainda mais quando ele
contextualiza que isso vale para todos os casais. Mas
vale mesmo? A verdade é que não existe simetria entre
os diferentes tipos de casais quando só um deles é
criminalizado. Além disso, essa é uma frase que
esquiva a organização da responsabilidade de criar
ações reais para receber com respeito os visitantes
LGBTs e que coloca a culpa nas pessoas que não
conseguem "se esconder o suficiente" - como eu não
conseguiria.
A consequência dessa falta de ação prática já vem
sendo vista: uma investigação realizada recentemente
pela mídia de países escandinavos revelou que os
hotéis recomendados pela Fifa no Catar estão se
recusando a aceitar hóspedes LGBTQIA+. Com a
aproximação do início dos jogos, pode ser que mais e