Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-24)

(Antfer) #1

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Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e
Informações
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A conjunção de um presidente incapaz, uma grei de
parlamentares oportunistas e um procurador-geral da
República que não demonstra ter gana para cumprir o
papel que a Constituição lhe reserva criou esse
ambiente singular no qual vultosos recursos do
Orçamento são usurpados à luz do dia para financiar
ambições estranhas ao interesse público praticamente
sem reação. Poucas vezes em nossa história
republicana foi tão fácil para uma plêiade de políticos
indignos de seus mandatos malversar recursos
públicos.


Vedações legais, imperativos morais ou espírito público
parecem meros detalhes incapazes de fazê-los perder
algumas horas de sono que sejam.


O jornalismo profissional e independente tem feito a
parte que lhe cabe para a construção de uma sociedade
democrática, vale dizer, uma sociedade informada, livre
e participativa. Nos últimos três anos e meio, só o
Estadão revelou mais escândalos de corrupção do que
o governo que se jacta de ter 'acabado com a
corrupção' em Brasília teria coragem de admitir. A rigor,
antes mesmo de Jair Bolsonaro tomar posse como


presidente da República este jornal já havia revelado ao
País o esquema das 'rachadinhas', lançando luz sobre
as suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro e
enriquecimento ilícito que recaem sobre o filho mais
velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, e o
'faz-tudo' do clã, o notório Fabrício Queiroz.

Desde então, o País tomou conhecimento, entre outros
malfeitos, do 'orçamento secreto', esquema urdido no
Palácio do Planalto para evitar o impeachment de
Bolsonaro, e assistiu ao governo tomar uma nova forma:
a submissão quase absoluta do presidente da República
aos interesses do Centrão, grupo político que hoje é
liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), e por seu correligionário à frente da
Casa Civil, o ministro Ciro Nogueira (PP-PI).

Essa parceria - chamemos assim entre o governo e o
Centrão tem se notabilizado menos pelas boas políticas
públicas que poderiam advir de uma união de forças
entre um Executivo e um Legislativo mais ciosos da
realidade do País do que pelas suspeitas de corrupção
que se sucedem a cada apuração de jornalistas que
ousam não se dar por vencidos, a despeito dos fortes
ataques de que têm sido vítimas.

Recursos do 'orçamento secreto', uma excrescência por
si só, foram usados para comprar ônibus escolares
superfaturados. Os veículos foram distribuídos de forma
absolutamente antirrepublicana, privilegiando
municípios governados por amigos - e até mesmo
parentes - dos mandachuvas de turno. Depois, vieram
os tratores, que, assim como os ônibus, foram
adquiridos a preços muito discrepantes da realidade de
mercado e por meio de convênios entre municípios
escolhidos a dedo e a Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
A Codevasf, aliás, é um capítulo muito peculiar na
história da 'parceria' entre Bolsonaro e o Centrão. Sob o
atual governo, a chamada 'estatal do Centrão' foi
inchada a tal ponto que passou a abarcar projetos em
cidades que distam até 1, 5 mil quilômetros das águas
dos rios que batizam a empresa.
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