Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1

Mata atlântica pede socorro novamente


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Tendência e Debates
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto


Os resultados do relatório anual do Atlas dos
Remanescentes Florestais da Mata Atlântica voltam a
ser muito preocupantes. O documento anual, produzido
desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta
que perdemos 21,6 mil hectares de florestas naturais
em 2021. Isso equivale a 59 hectares ou campos de
futebol por dia ou 2,5 hectares por hora.


O resultado é 66% superior ao do ano anterior, o mais
alto desde 2015 e 90% maior do que o menor valor da
história, alcançado em 2018. O aumento do
desmatamento foi estrondoso, e as florestas perdidas
lançaram 10,3 milhões de toneladas de CO2
equivalente na atmosfera.


Além de acentuar o aquecimento global, aumentar o
risco de eventos climáticos extremos e desastres
naturais que ameaçam a vida e a economia, a perda da
mata atlântica também amplia os riscos de crises
hídricas e apagões elétricos no Nordeste, Sudeste e Sul
do Brasil. Petrópolis, Angra dos Reis, Paraty, Curitiba,


municípios da Bahia, Minas Gerais e Grande São Paulo
são testemunhas.

Como o Atlas monitora os fragmentos de florestas
maduras da mata atlântica, também implica que
estamos perdendo as matas que abrigam as espécies
vegetais e animais mais raras e ameaçadas de
extinção, o último reservatório da biodiversidade de um
dos biomas mais diversos do mundo. Estamos
perdendo a memória e a sabedoria da floresta e
comprometendo o nosso futuro.

O desmatamento aumentou em praticamente todos os
estados. Como de costume, infelizmente, está
concentrado em algumas regiões de Minas Gerais,
Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul, que acumulam
85% do total. Também é alarmante o avanço em
estados que estavam se aproximando do fim definitivo
do desmatamento, como São Paulo, Rio de Janeiro,
Sergipe e Pernambuco, revertendo uma trajetória
conquistada a duras penas.

As matas ainda são substituídas principalmente para
serem ocupadas por pastagens e culturas agrícolas. Em
seguida vem a pressão da expansão urbana e da
especulação imobiliária ao redor das grandes cidades e
no litoral.

O fim imediato do desmatamento e a restauração da
mata atlântica estão ao nosso alcance e são
fundamentais para garantirmos os serviços
ecossistêmicos essenciais para 70% da população que
vive nos 17 estados abrangidos pelo bioma. O respeito
à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os
primeiros passos, que podem ser turbinados pelo tão
almejado crédito de carbono.

Mas sonhar com o carbono da restauração enquanto
ainda estamos destruindo nossas florestas naturais é
uma grande ingenuidade de muitos governantes e
investidores. Não é possível fazer vestibular sendo
reprovado no ensino fundamental. Frear os retrocessos
no Congresso e no governo federal até o final de 2022 e
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