Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1
Desistência de João Doria mostra que bolsonarismo ocupou espaço do
PSDB

Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Quase 30 anos separam a primeira eleição de Fernando
Henrique Cardoso como presidente do Brasil, em 1994,
da entrevista coletiva em que o ex-governador de São
Paulo João Doria anunciou a desistência de sua pré-
candidatura à Presidência pelo PSDB. Nessas quase
três décadas, o partido fundado em 1988 a partir de
uma dissidência do PMDB, reunindo alguns dos nomes
mais preeminentes e respeitados da política nacional,
exerceu protagonismo inequívoco, que começou a
esvanecer a partir da ascensão do bolsonarismo em
2018.


A decisão de Doria é explicada não só pelas
resistências internas, mas também pelas dificuldades do
partido para se impor politicamente no maior e mais rico
estado do Brasil, cidadela inexpugnável do tucanato
desde 1995, quando elegeu Mário Covas para o Palácio
dos Bandeirantes. Mas surpreende pelo histórico da
legenda.


O PSDB governou o Brasil duas vezes com FH, que
venceu ambos os pleitos em primeiro turno - fato inédito


desde a redemocratização. Esteve no segundo turno em
todas as demais disputas, com exceção de 2018,
quando Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad (PT).
O legado tucano fica patente não apenas em seu
desempenho nas urnas. Conquistas como a
estabilização da moeda, os avanços na educação e na
saúde e os programas sociais (aperfeiçoados pelos
petistas) são inquestionáveis.

Quando passou o governo a Rodrigo Garcia para se
dedicar à corrida ao Planalto, Doria deixou uma herança
notável, em particular pelo pioneirismo na vacinação
contra a Covid-19. Não é exagero dizer que foi por força
de seu engajamento que o Ministério da Saúde
apressou a campanha, depois de hesitação
inadmissível. Mas o bom desempenho à frente do
governo paulista não foi suficiente para catapultá-lo nas
pesquisas eleitorais. Sem projeção nacional, Doria
nunca decolou como se esperava do pré-candidato de
um dos partidos mais influentes do país.

Por ora, é nebuloso o cenário que se formará diante da
desistência dele. A única certeza até agora é a
derrocada do PSDB, que se acentua à medida que as
hostes tucanas vão sendo devoradas pelo
bolsonarismo. Não há melhor evidência disso que o
desempenho no enclave de São Paulo, onde a
candidatura do bolsonarista Tarcísio de Freitas desafia
a hegemonia da legenda.

Mesmo sem jamais vestir com conforto o figurino da
direita, o PSDB aglutinou um ânimo que o levou a
sucessivos duelos com o PT. Mas o sentimento
antipetista foi confiscado pelos bolsonaristas nos últimos
anos. A renúncia de Doria é o último movimento na
digestão dos tucanos pelo bolsonarismo, sem que o
PSDB tenha esboçado reação.

Rachado mesmo antes das prévias em que Doria
derrotou o gaúcho Eduardo Leite, o partido se
encaminha para as urnas na situação mais desafiadora
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