Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1

BERNARDO MELLO FRANCO - À matança no palanque


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: BERNARDO MELLO FRANCO


No início do mês, a Polícia Civil foi ao Jacarezinho e
destruiu um monumento que lembrava os 28 mortos da
operação mais letal da história do Rio. Dias depois, o
governador Cláudio Castro visitou a favela e festejou o
ato de truculência. Declarou que o memorial, erguido
por ativistas de direitos humanos, fazia 'apologia ao
crime'.


Castro era vice de Wilson Witzel, um governador que
fazia apologia da matança policial. O ex-juiz se elegeu
na onda bolsonarista de 2018. A pretexto de combater o
tráfico, lançou a doutrina do 'tiro na cabecinha'.


O atual governador não se fantasia de Rambo, mas
também confunde política de segurança com incentivo
ao bangue-bangue. Seu chefe de polícia, Allan
Turnowski, disse que gostaria de ocupar as favelas com
tanques de guerra. O discurso tinha fins eleitoreiros: o
delegado acaba de deixar o cargo para se candidatar a
deputado pelo partido de Castro e Bolsonaro.


Ontem a necropolítica produziu outro banho de sangue


no Rio. Uma operação liderada pelo Bope deixou ao
menos 22 mortos na Vila Cruzeiro. A favela ficou
tristemente famosa pela execução do jornalista Tim
Lopes por traficantes, em 2002. Vinte anos depois, é
palco de mais uma calamidade carioca.

Como costuma acontecer, a megaoperação aterrorizou
a comunidade e deixou milhares de crianças sem aula.
Ontem também matou ao menos uma inocente: a
cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos,
atingida dentro de casa por uma bala perdida.

Antes de fechar a conta das vítimas, o secretário da
Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires,
buscou politizar a ação. Culpou o Supremo Tribunal
Federal por uma suposta migração de bandidos para o
Rio. A fala combina com a retórica de Bolsonaro, que
transformou os ataques à Corte em arma eleitoral.

Castro assumiu a cadeira de Witzel em agosto de 2020.
Em 21 meses, sua gestão já é responsável por duas
das três maiores chacinas policiais registradas no Rio.
Em campanha à reeleição, o bolsonarista parece buscar
dividendos políticos no incentivo à violência fardada.

COLUNISTAS

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
Free download pdf