Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1

VERA MAGALHÃES - O futuro não é mais como era antigamente


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: VERA MAGALHÃES


Um dos livros que mais me impactaram nos últimos
tempos, pela forma cirúrgica com que aponta como o
contrato social firmado pelo mundo democrático depois
das duas guerras mundiais não é mais válido para os
desafios do presente e de um futuro que chega a galope
todos os dias, foi escrito pela economista Minouche
Shafik, diretora da London School of Economics. No
Brasil, ganhou o título 'Cuidar uns dos outros - Um novo
contrato social'.


Tive a oportunidade de entrevistar a autora a respeito
dos temas que ela reuniu para demonstrar como os
arranjos institucionais, econômicos, educacionais, de
proteção social e ambientais, entre outros, ficaram
rapidamente obsoletos diante de uma realidade que já
vinha em rápida mudança graças a fatores como
tecnologia, avanço da emergência climática e novo perfil
demográfico dos países, e como isso foi potencializado
de forma dramática pela pandemia de Covid-19.


Ela mostra com dados por que é inadiável que o mundo
democrático rediscuta o atual contrato social, sob pena


de, muito rapidamente, mais nações se verem diante do
apelo sedutor de líderes com discurso de radicalização
populista e tendência autocrática, que seduzem
crescentes contingentes de eleitores ao propor soluções
falsamente simples para problemas complexos.

O que fez com que o livro continue martelando na minha
cabeça meses depois da leitura e da entrevista é a
inquietante constatação de que nem um único dos
temas que Shafik aborda está sequer sendo esboçado
na campanha presidencial brasileira.

Enquanto em seu livro ela constata, com dados e
evidências, que a maior longevidade obrigará as
pessoas a trabalhar por mais tempo, para que o custo
de financiar sua velhice não recaia de forma injusta
sobre as novas gerações, por aqui estamos discutindo
se reabilitaremos ou não a CLT como norte para
relações trabalhistas viradas de ponta-cabeça nos
últimos anos e ainda em transmutação.

No livro, a economista evidencia que a educação para o
futuro, para ser efetiva, tem de privilegiar a primeira
infância, pois é ela que determinará a possibilidade de
indivíduos desenvolverem todo o seu potencial cognitivo
e emocional. A partir daí, o aprendizado será um
contínuo desenvolvimento de habilidades para muito
além do conteudismo clássico.

Enquanto isso, no Brasil de Jair Bolsonaro estamos
prestes a aprovar uma autorização de ensino doméstico
de inspiração ideológica e religiosa, em tudo regressiva
e oposta ao que fazem as nações que de fato adotaram
a educação como eixo de projetos de desenvolvimento.

A autora mostra por 'A + B' o caráter contraproducente
de países, ricos ou pobres, manterem subsídios a
combustíveis fósseis. Não só do ponto de vista da
necessária mudança de matriz energética para evitar a
catástrofe climática, mas do ponto de vista da gestão de
recursos cada vez mais escassos.

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