Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1

Marcelo Godoy - A austeridade dos bolsonaristas


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Marcelo Godoy


O País se deu conta nesta semana de que o projeto dos
militares que apoiam o governo de Jair Bolsonaro prevê
a manutenção do poder até 2035. Até lá, eles terão
avançado na tarefa de remodelar o Estado, vencendo
uma nova guerra. Na falta do Movimento Comunista
Internacional, identificam o 'globalismo' como a doutrina
inimiga que pretende subjugar a Pátria.


São os banqueiros internacionais, a alta finança, que
ocupa o lugar que um dia foi dos bolcheviques, criando
uma situação interessante. O discurso contra a
plutocracia, tão em moda entre os radicais da direita dos
anos 1920, orgulha-se em dividir a mesa com Elon
Musk, mas é refratário ao dinheiro de George Soros.


O plano dos generais Eduardo Villas Bôas e Hamilton
Mourão defende a austeridade pública. Quer cobrar o
atendimento no SUS de quem ganha mais de três
salários mínimos. Pretende impor mensalidades aos
alunos das universidades federais enquanto os cadetes
das Forças Armadas e das polícias recebem soldo nas
suas escolas porque o estudo ali é visto como serviço.


Ao tratar da Educação, a intenção do plano fica mais
nítida. Ele quer 'desideologizar' o ensino no País. Como
fazer isso sem afrontar a liberdade de cátedra, a
autonomia universitária e a liberdade de pensamento é
algo que não se explica. É curioso que generais se
sintam à vontade para impor ao mundo acadêmico
aquilo que acusavam o PT de tentar impor às escolas
de formação de oficiais: um currículo ao gosto de sua
visão de mundo.

Tudo isso está no Projeto de Nação, o Brasil em 2035,
estudo do Instituto Villas Bôas que contou com o apoio
de Mourão e com a estrutura dos ministérios, que
distribuíram questionários pelo País, cujas repostas
moldaram o documento, conforme disse seu
coordenador, o general Rocha Paiva. Assim é fácil.

O leitmotiv do trabalho seria a tutela ideológica da
sociedade? Senão, como explicar que até no capítulo
que trata do combate à corrupção conste como diretriz
para atingir esse objetivo 'coibir a pregação ideológica
radical nos três níveis da Educação'? É como se a
corrupção fosse problema da ideologia que se pretende
combater: a dos outros. Ela não existe no ouro dos
pastores da Educação, no orçamento secreto, na
compra de caminhões de lixo e na rachadinha.

Por fim, quem oferece um projeto à Nação silencia
sobre o exemplo que deve dar ao País. Ele não trata do
fim dos privilégios das corporações da burocracia civil e
militar. Não se toca no acúmulo de salários, na
aposentadoria integral de militares e nas gratificações e
auxílios deles e de carreiras, como a dos magistrados.
Fica-se, assim, com a impressão de que a austeridade
do projeto é só uma pimenta jogada nos olhos dos
outros. e

'Projeto de Nação'? dos generais contou com a
estrutura dos ministérios para ser elaborado

COLUNISTAS
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