Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-25)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Exame/Nacional - Brasil
terça-feira, 24 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Reforma trabalhista

ficava a linha de montagem, um hospital no
estacionamento e centros de distribuição de e-
commerce onde os armazéns estão sendo
transformados em escombros. Ele disse que não está
autorizado a divulgar os nomes de inquilinos em
potencial, mas no mesmo fôlego mencionou Alibaba,
Amazon e Mercado Livre com um brilho nos olhos. No
meio de nossa reunião, ele recebeu uma mensagem de
WhatsApp de um interessado perguntando se é possível
pousar um helicóptero no local. Silvestri diz que a
reforma, orçada em cerca de 750 milhões de reais (160
milhões de dólares), deve ser concluída até 2025.


São Bernardo tem sofrido outras deserções desde que a
Ford fez suas malas. Em 5 de abril, a Toyota anunciou
que fecharia sua fábrica, a primeira unidade da empresa
fora do Japão, e consolidaria a produção em outras
instalações no país. “Nós que trabalhamos na Ford
sabemos muito bem como esses funcionários estão se
sentindo agora”, diz Lucas Sanches Padilha, de 28
anos, que estava entre os demitidos de 2019. “O que vai
ser de São Bernardo se essas empresas continuarem
saindo?”


A cidade de menos de 1 milhão de habitantes com
frequência foi chamada de Detroit brasileira, embora a
comparação não seja tão lisonjeira nos dias de hoje.
São Bernardo é também o berço do movimento
trabalhista do país e foi onde Luiz Inácio Lula da Silva,
ex-presidente por dois mandatos e de olho em mais um,
ganhou destaque pela primeira vez. Como tal, a cidade
oferece uma visão única do Brasil neste momento, à
medida que o país mergulha em uma recessão, atingido
por preços em alta e emprego em queda, com a
pandemia não totalmente superada e prestes a realizar
uma eleição presidencial em outubro.


A transformação da antiga fábrica da Ford reflete a da
economia brasileira de modo geral, em que a
participação da manufatura vem diminuindo, enquanto a
dos setores de serviços está aumentando. Na década
de 1980, a manufatura atingiu um pico de 34% do


produto interno bruto. Em 2020, último ano para o qual
há dados disponíveis, a parcela do PIB foi de pouco
menos de 10% — abaixo dos índices da Argentina e do
México. O que está se perdendo na transição são
dezenas de milhares de empregos bem remunerados. A
indústria automobilística empregou pouco menos de
107.000 brasileiros em 2019, uma queda de 21% em
relação ao pico de 135.000 em 2013, de acordo com os
dados mais recentes da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores.

O Brasil está apresentando sintomas do que o professor
de Harvard Dani Rodrik chama de “desindustrialização
prematura”, uma condição que aflige principalmente os
países de baixa e média renda. A manufatura é a
“escada rolante por excelência”, disse Rodrik, ajudando
a elevar os padrões de vida. Se a escada rolante
quebrar, uma nação pode ter dificuldades para alcançar
as economias avançadas.

“Nos anos 1980 tínhamos o sexto maior setor industrial
do mundo. Agora somos o 12º”, diz Moisés Selerges,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo. “Este governo não tem demonstrado
interesse algum pelo setor. Ele só se preocupa com o
agronegócio e com o desmatamento, e isso nos coloca
em desvantagem porque, para crescermos, precisamos
de indústrias.”

No período pós-guerra, o Brasil encantava as
montadoras como uma nova e promissora fronteira, em
parte graças aos generosos incentivos governamentais
oferecidos. Mercedes-Benz, Simca e Volkswagen se
instalaram na região de São Bernardo por um período
de quatro anos no final da década de 1950. Espremida
entre São Paulo, capital de negócios do país, e Santos,
o maior porto do continente, a localização era ideal. A
Ford chegou em 1967, assumindo uma fábrica existente
de propriedade da Willys Overland Motors, onde
começou a produzir centenas de milhares de sedãs e
cupês Corcel.
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