Helio Beltrão - Aprovação do ensino domiciliar é bem-vinda
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Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Helio Beltrão Engenheiro com especialização em
finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente
Em 2008, soube pelos jornais que uma família simples
de Timóteo, Minas Gerais, estava sendo perseguida
pelo Estado por deixar de matricular seus filhos na
escola pública. Cleber Nunes e sua esposa, Bernadeth,
optaram pelo ensino domiciliar (homeschooling)dos
seus filhos, Jônatas e David, a partir dos 10? 11 anos,
respectivamente. Julgavam que o ensino público até ali
havia sido deficiente e inadequado.
Fiquei impressionado com a resiliência daqueles pais
que enfrentavam o sistema que ameaçava tirar a guarda
de seus filhos por um alegado abandono intelectual que
nunca existiu.
Li aquela reportagem e, ato contínuo, me pus a caçar o
contato do Cleber. Disse-lhe que gostaria de ir a
Timóteo naquela semana para conhecê-lo e apertar
suas mãos. Nasceu uma bela amizade desse encontro
súbito em Minas Gerais.
A batalha cível e criminal contra o Conselho Tutelar, o
Ministério Público e o governo ainda levaria anos. A
pressão era descomunal. Preservados na medida do
possível quanto ao terror da situação, os meninos
brilhavam: passaram na prova do vestibular dois anos
antes da idade tradicional. Enquanto litigavam no
Tribunal de Justiça, provas com aviso prévio curtíssimo
foram impostas aos garotos.
A família Nunes venceu todas as batalhas, e a guerra. A
Justiça desistiu de tomar a guar: da, e Jônatas e David
alcançaram a maioridade sob ensino domiciliar. Por
força de seus princípios, Cleber se recusou a pagar as
multas decretadas nos âmbitos cível e criminal.
Assim como Cleber e Bernadeth, há milhares de
famílias no Brasil que enfrentam a insegurança jurídica
do ensino domiciliar. Não há proibição em nosso
ordenamento jurídico, mas na prática o risco de
perseguição é enorme.
É, portanto, auspicioso que a Câmara dos Deputados
tenha aprovado o ensino domiciliar (ED). Há várias
salvaguardas previstas, como as avaliações periódicas
e a proteção à criança. O projeto segue para o Senado
e sanção presidencial.
O ED não configura uma proposta de política pública de
ensino. Representa principalmente a descriminalização
de um método de ensino que pode se adequar à
situação específica de centenas de milhares de famílias.
Os casos típicos são os de pais-professores, pais que
prefiram tutores a amargar escolas fechadas, núcleos
religiosos e pais que rejeitem o currículo enlatado pelo
Estado (com ensino sexual prematuro, versões
contestáveis da história do Brasil ou outras
pasteurizações inadequadas a famílias muito diversas
em costumes e tradições no vasto território nacional).
Os estudos invariavelmente comprovam que pais que
se comprometem com o ED em média proveem um
ambiente acadêmico com excelentes resultados,
especialmente em comparação com o ensino público