Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-26)

(Antfer) #1

Tragédia policial


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Em mais uma trágica operação policial deflagrada em
comunidades do Rio de Janeiro, forças de segurança do
estado, em colaboração com a Polícia Rodoviária
Federal, se envolveram em um confronto armado de
grandes proporções, que já resultou em ao menos 25
mortes.


Encontram-se entre as vítimas uma mulher, que foi
alvejada em sua casa, e um menor de idade. Nenhum
agente foi atingido.


A mortandade teve lugar na Vila Cruzeiro, na zona norte
da capital fluminense, que se torna, até aqui, o palco da
segunda incursão mais letal da história recente do Rio,
atrás apenas do que se viu no Jacarezinho, onde há
pouco mais de um ano outra ação catastrófica deixou
um saldo de 28 óbitos.


A rotina de enfrentamentos armados entre policiais e
quadrilhas que atuam no varejo do tráfico de drogas e
em outras atividades ilícitas tem se revelado não
apenas macabra, mas ineficaz. Os morticínios se
repetem e nada muda.


Os moradores das comunidades continuam oprimidos
por criminosos e pela violência policial, as facções se
fortalecem e o comércio de entorpecentes permanece
ativo.

Não é de hoje que especialistas da área da segurança
clamam por mudanças nas políticas públicas, de
maneira a privilegiar ações de inteligência e rever o
proibicionismo cego da guerra às drogas.

De pouco adianta policiais e autoridades alegarem que
o Estado enfrenta grupos fortemente armados se pouco
fazem de efetivo para cercear o tráfico de armas -e,
pior, incentivam a livre circulação dos artefatos, uma
das obsessões de Jair Bolsonaro (PL).

Não espanta, aliás, que o mandatário, sempre a cultivar
afinidades com as forças de segurança, tenha elogiado
a operação funesta.

Note-se que o desastre da Vila Cruzeiro foi anunciado
como uma ação de inteligência, com o objetivo de
surpreender um comboio do crime -e estaria sendo
planejada há quatro meses.

A preocupação da sociedade com a criminalidade é
mais do que justificada, mas o debate público não pode
ser degradado ao ponto de menosprezar afrontas em
potencial a alicerces do Estado de Direito.

Um dos países mais violentos do mundo, o Brasil
enfrenta há décadas graves problemas na área de
segurança. Nem todos dependem, para serem
mitigados, de reformulações estruturais.

Por vezes medidas simples, como a instalação de
câmeras nos uniformes policiais, produzem resultados
notáveis. Em São Paulo, tal procedimento tem reduzido
a letalidade policial. No Rio, embora legislação nesse
sentido tenha sido aprovada, o programa está atrasado.
É negligência que custa vidas.

COLUNISTAS
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